No primeiro dia da cimeira em Vilnius, o Presidente da Ucrânia exigiu “respeito”, um calendário que delineasse o caminho para a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) e o fim da postura “absurda” que estava a atrasar a adesão do país que está há mais de um ano a tentar fazer face a uma invasão da Rússia.

A “bomba” de Volodymyr Zelensky ecoou imediatamente e irrompeu pela reunião. E nem a introdução da palavra “convite” nas conclusões da cimeira convenceu Zelensky, apesar da relutância de Washington e de Berlim em incluí-la.

Mas para o primeiro-ministro português, António Costa, “houve, seguramente, um mal-entendido” do Presidente da Ucrânia quanto às intenções dos aliados e foi precisamente isso que transmitiram a Zelensky.

Da noite para o dia, o discurso que até então sabia a pouco deu lugar a uma conquista. Os países que compõem o G7 (Alemanha, França, Estados Unidos, Itália, Reino Unido, Canadá e Japão) anunciaram uma declaração que dá garantias de segurança até à eventual adesão do país.

Não é um convite, muito menos um calendário, mas é um “primeiro documento legal que é como um guarda-chuva” para assegurar que a Ucrânia vai continuar a receber apoio, disse Zelensky.

A moeda de troca é o fim da guerra e o cumprimento das condições estabelecidas. Só aí é que vai ser possível olhar para a Ucrânia com um candidato à Aliança Atlântica.

O documento “cobrirá todos os aspetos que agora estão em falta como a defesa aérea, as aeronaves militares” e tudo o resto que a Ucrânia necessite para expulsar os militares russos do seu território.

Mas Zelensky lembrou que, no passado, o país ficou com um documento parecido “na mão” e isso não impediu a Rússia de violar a integridade do seu território, advertindo que, desta vez, tem mesmo de haver “respeito” pela Ucrânia.

Entre as declarações de unidade renovada, o Presidente da Ucrânia anunciou, ao lado do secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, que regressaria “a casa com uma vitória significativa de segurança” e um “sinal tático” para o Kremlin.

“Não é uma candidatura, mas é uma mobilização para a Ucrânia e um sinal poderoso”, advogou.

E as críticas do dia anterior converteram-se, nas palavras do próprio, em sensatez, para tentar apaziguar a frustração da população ucraniana e de alguns aliados, como a Lituânia, que optariam por ir mais longe no processo de adesão.

“Percebemos isso, somos sensatos, os parceiros neste momento estão a ajudar-nos com armas, este é um momento de sobrevivência, entendemos que haja algum receio em falar sobre a nossa adesão agora. Ninguém quer uma guerra mundial, quero que todos entendam isso: a Ucrânia não pode aderir enquanto a guerra continuar, isto é absolutamente claro”, esclareceu Zelensky.

Do encontro de dois dias, Portugal conseguiu convencer os aliados a incluir na declaração final o compromisso para uma “reflexão abrangente e profunda sobre ameaças e desafios” no flanco sul da NATO, que será feita até à próxima cimeira, em 2024, nos Estados Unidos da América.

Esta é uma 'bandeira' antiga do país, que tem alertado para várias preocupações no continente africano, nomeadamente na região do Sahel, e que incluem terrorismo praticado por mercenários como os do grupo Wagner.

No final do encontro, António Costa adiantou que Portugal respondeu à chamada e subscreveu as garantias de segurança dadas à Ucrânia pelos países do G7, ressalvando que ainda vai ser discutido de que forma é que o país pode ajudar a assegurá-las.

Portugal, que é um dos Estados-membros fundadores da Aliança desde 1949, vai ainda reforçar em um milhão e meio de euros a comparticipação no fundo da NATO “para a parceria com os países da vizinhança sul” da Aliança e participar no novo Fundo para a Inovação, constituído durante esta cimeira.

*Por Ana Raquel Lopes e André Campos Ferrão/Lusa