“Hoje vemos mais uma vez um mundo virado do avesso. O Estado de Israel é acusado de genocídio enquanto luta contra o genocídio”, disse o primeiro-ministro israelita numa mensagem vídeo após terminar a primeira audiência sobre o caso em Haia.

A equipa jurídica da África do Sul começou hoje a apresentar os seus argumentos jurídicos perante o TIJ, o mais alto tribunal da ONU, para exigir medidas cautelares urgentes contra Israel, país que acusa de ter “uma intenção genocida” na sua guerra na Faixa de Gaza.

“Israel está a lutar contra terroristas assassinos que cometeram crimes terríveis contra a humanidade: massacraram, violaram, queimaram, desmembraram, mataram crianças, mulheres, idosos, homens jovens, mulheres jovens”, disse Netanyahu sobre o ataque em solo israelita executado pelo movimento islamita palestiniano Hamas, em 7 de outubro de 2023.

Este ataque sem precedentes deixou cerca de 1.140 pessoas, na maioria civis, segundo números oficiais de Telavive, e mais de 200 foram levadas para a Faixa de Gaza como reféns.

“Uma organização terrorista que cometeu o crime mais terrível contra o povo judeu desde o Holocausto, e agora há quem venha defendê-la em nome do Holocausto. Que audácia! O mundo virou do avesso”, comentou o chefe do Governo israelita.

Em retaliação ao ataque do Hamas, Israel, que prometeu eliminar o movimento palestiniano considerado terrorista pela União Europeia e Estados Unidos, lançou uma ofensiva em grande escala na Faixa de Gaza, onde nos últimos três meses, segundo o governo local, já foram mortas mais de 23 mil pessoas, na maioria mulheres, crianças e adolescentes.

O conflito provocou também cerca de 1,9 milhões de deslocados (perto de 85% da população da Faixa de Gaza), segundo a ONU, mergulhando o enclave palestiniano sobrepovoado numa grave crise humanitária.

Netanyahu criticou hoje “a hipocrisia da África do Sul” e referiu-se ao Exército israelita como “o mais moral do mundo”, e que faz todo o possível para evitar prejudicar a população civil não envolvida no conflito.

“Onde estava a África do Sul quando milhões de pessoas foram mortas e deslocadas das suas casas na Síria e no Iémen, e por quem? Pelos parceiros do Hamas. O mundo está virado do avesso”, insistiu, acrescentando que Israel continuará “a combater os terroristas, rejeitando as mentiras”, pelo direito à sua defesa e futuro “até à vitória absoluta”.

O TJI começou hoje a apreciar as acusações de genocídio na Faixa de Gaza, na sequência de uma queixa apresentada em 29 de dezembro pela África do Sul contra “as atrocidades cometidas por Israel”.

O Governo de Telavive prometeu, em 2 de janeiro, estar presente no tribunal nas primeiras audiências em Haia, para se opor às acusações de violação da Convenção de Prevenção e Punição do Crime de Genocídio, adotada em 1948, o que deverá acontecer na sexta-feira.