“O que aconteceu é que se enterrou um projeto chave para a conexão energética de Espanha e substituiu-se por um projeto que se desconhece, porque é simplesmente uma ideia, desconhece-se o orçamento, o financiamento, os prazos e a viabilidade”, afirmou Alberto Núñez Feijóo, líder do maior partido da oposição em Espanha e candidato a chefe de Governo nas legislativas previstas para dentro de um ano.

Quanto à “ideia no papel, sempre é melhor ter esta do que não ter nenhuma”, acrescentou Feijóo, que reconheceu que “Espanha teve de aceitar uma decisão soberana do governo francês”, que se opunha ao gasoduto nos Pirenéus, mas que “por enquanto” não se conhecem os termos da nova ligação, submarina, entre Barcelona e Marselha (batizada BarMar).

O gasoduto nos Pirinéus (conhecido como MidCat) era “um projeto que estava muito amadurecido”, que uniria ligações já existentes no lado espanhol e francês e que chegou a ter financiamento europeu assegurado para a construção, afirmou Núñez Feijóo, em Madrid, durante um encontro com jornalistas da imprensa estrangeira acreditados em Espanha, entre os quais, a agência Lusa.

“Lamentavelmente”, o governo espanhol liderado pelo socialista Pedro Sánchez, quando tomou posse, em 2018, substituindo o PP no poder, considerou o gasoduto dos Pirenéus “um investimento ruinoso”, afirmou Feijóo, que garantiu que estas foram as “palavras textuais” da atual ministra com a pasta da energia, Teresa Ribera.

Segundo o líder do PP, “parou-se o investimento” e quando chegou a atual crise energética, dadas as infraestruturas espanholas de armazenamento de gás, que poderiam ser usadas no abastecimento do resto da Europa, foi preciso “retomar” o debate.

Núñez Feijóo realçou que considera que a União Europeia (UE) tem de ter “maior soberania energética” e que são necessárias mais ligações para transporte de energia, como demonstrou a crise gerada pelo corte de abastecimento de gás russo, na sequência da guerra na Ucrânia.

Portugal, Espanha e França anunciaram na semana passada, em Bruxelas, um acordo para acelerar as ligações para transporte de energia entre a Península Ibérica e o território francês.

O acordo, anunciado após um encontro dos líderes dos governos dos três países, substitui o projeto do gasoduto dos Pirenéus pela ligação submarina BarMar, destinada ao transporte, numa fase inicial, de gás e, depois, de hidrogénio.

O primeiro-ministro português, António Costa, em linha com o que afirmaram os governos de Espanha e França, disse que espera que este novo projeto possa ser totalmente financiado por verbas europeias.

O acordo estabelece também a necessidade de concluir as futuras ligações de gás renovável entre Portugal e Espanha, nomeadamente, entre Celorico da Beira e Zamora (CelZa).

O calendário, as fontes de financiamento e os custos relativos à execução do “corredor verde energético” acordado pelos dois primeiros-ministros ibéricos e o Presidente francês, Emmanuel Macron, serão debatidos num novo encontro a três em dezembro, em Alicante, Espanha.

No encontro de hoje com jornalistas estrangeiros em Espanha, o líder do PP espanhol considerou que a política energética de Sánchez tem sido “precipitada” e “improvisada”, condenando a insistência em fechar todas as centrais térmicas e nucleares de produção de eletricidade, sobretudo, no contetxto da crise atual.

Feijóo considerou também que o Governo espanhol não deu a necessária “prioridade legislativa” às renováveis, para eliminar burocracias, acelerar projetos e garantir a devida ligação à rede de distribuição elétrica, com vista ao “escoamento” da produção.