Quase metade (45,4%) de uma amostra de 13 mil adolescentes no país apresentou sintomatologia depressiva, representando um aumento face aos números de anos anteriores, referiu hoje a Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC), responsável pelo programa, em comunicado.

No ano letivo anterior, em que o “Mais Contigo” se estendeu a mais escolas do 3.º ciclo do ensino básico e do ensino secundário, abrangendo o maior número de adolescentes desde o início do programa (em 2021-2022, a amostra foi de 5440 jovens), subiram também os adolescentes com indícios e manifestações de depressão moderados (14,8%) ou graves (15,3%).

“Uma vez mais, foram as raparigas a manifestar piores indicadores de saúde mental – maior sintomatologia depressiva, menor autoconceito e menor bem-estar”, conclui o estudo feito pela equipa coordenadora do projeto, criado em 2009 pela ESEnfC e pela Administração Regional de Saúde do Centro (ARSC), com a cooperação do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC).

Segundo o comunicado, os resultados têm por base uma amostra de alunos com uma média etária de 13,4 anos (faixa compreendida entre os 11 e os 21 anos de idade) a frequentarem 153 agrupamentos de escolas, mais 197 escolas ou colégios, de norte a sul de Portugal (incluindo Açores e Madeira).

“No final da intervenção, foi possível diminuir a sintomatologia depressiva, aumentar o bem-estar e o autoconceito, sendo que 96 adolescentes foram referenciados e encaminhados para serviços de saúde mental e psiquiatria e outros 90 para cuidados de saúde primários”, lê-se na nota.

O coordenador nacional do “Mais Contigo” e professor de saúde mental e psiquiatria na ESEnfC, José Carlos Santos, salientou que o programa cumpriu a sua missão, embora haja ainda desafios pela frente.

Citado no comunicado, o docente frisou que foram reforçadas as “dimensões protetoras para o comportamento suicidário, autoconceito e bem-estar, e reduzidas as de maior risco, o estigma e a sintomatologia depressiva, que passou de 30,1% [no início da intervenção] para 26%, mesmo assim um valor alto”.

De acordo com o responsável, os resultados obtidos “apelam para a necessidade de acompanhamento e intervenção sistemática dos adolescentes em contextos comunitários, onde a escola emerge como contexto prioritário”.

“Essa é, de resto, a recomendação da Comissão Europeia ao Parlamento Europeu, ao Conselho, ao Comité Económico e Social Europeu e ao Comité das Regiões, onde se reforça a necessidade de integrar a saúde mental em todas as políticas”, realçou José Carlos Santos.

Segundo o docente, as razões da existência do programa “Mais Contigo” são cada ano “mais aprofundadas”, já que “o impacto da pandemia, com mais procura de cuidados de saúde mental, com mais distúrbios de ansiedade, de sintomatologia depressiva e mais alterações comportamentais, reforçam a sua importância”.

O coordenador nacional do programa considerou que as recentes alterações da legislação em torno da organização dos serviços de saúde mental, “com mais proximidade e recursos comunitários, são razão para ter esperança”, embora “alguns desafios se mantenham”.

Entre os desafios, José Carlos Santos salientou a necessidade de “conquista de um lugar para a saúde mental” na formação dos adolescentes, o diálogo entre instituições ou o anonimato dos questionários, que impede uma intervenção individualizada quando identificadas necessidades.

Os resultados do estudo foram apresentados na quarta-feira, em Coimbra, no XII Encontro “Mais Contigo”.