A AfD, um movimento anti-islâmico e anti-imigrantes, nascido há apenas quatro anos, obteve cerca de 13% dos votos nas eleições legislativas alemãs realizadas hoje, segundo as sondagens à boca da urna, e contará provavelmente com até 89 deputados no parlamento (Bundestag)."Vamos mudar este país", afirmou um de seus dirigentes, Alexander Gauland, minutos depois da divulgação das últimas projeções. Haverá "uma marcação", acrescentou, contra Angela Merkel. Outra das líderes da AfD, Alice Weidel, concentrou-se em objetivos de médio prazo, como o de "estar em condições de governar a partir de 2021".

Os demais partidos alemães convergem em apontá-lo como uma "vergonha para a Alemanha" e há poucas possibilidades de que a formação integre o próximo governo, que será, sem dúvida, liderado novamente por Merkel.

"Pela primeira vez em 70 anos, nazis vão expressar-se no Reichstag"

A chegada à câmara dos deputados da AfD, que em 2013 não chegou a 5%, é uma mudança na história alemã do pós-guerra."Pela primeira vez em 70 anos, nazis vão expressar-se no Reichstag", criticou antes das eleições o ministro das Relações Exteriores, o social-democrata Sigmar Gabrielo.

Eleições na Alemanha: Merkel vence, mas com menos que o previsto. Extrema-direita cresce. Siga aqui ao minuto
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A Alemanha, devido a seu passado, foi durante muito tempo um dos poucos países europeus a não ter um movimento anti-imigrantes, ao contrário de vizinhos como França, Holanda e Áustria. A AfD, apesar do conflito entre os seus dirigentes, aproveitou o descontentamento por parte da sociedade alemã pela chegada de mais de um milhão de pedidos de asilo, em 2015 e 2016, como consequência de uma decisão tomada por Merkel relativamente ao tema dos refugiados.

Embora alguns ex-nazis tenham sido eleitos deputados no Bundestag até os anos 1980, o que acontece agora "é um corte histórico", estima o historiador Michael Wolffsohn. "Pela primeira vez, um partido muito à direita do centro e em alguns aspectos de extrema-direita será representado no Bundestag", destaca.

A AfD, que estimula o medo aos imigrantes, sobretudo muçulmanos, está muito presente nas redes sociais e contratou a mesma agência de publicidade americana que colaborou com Donald Trump no passado.

Aproximação à Frente Nacional e ao FPÖ austríaco

Parte do partido quer aproximar-se da Frente Nacional (FN) francês e do FPÖ austríaco, e desde a sua criação tem radicalizado o discurso. Durante esta campanha Alexander Gauland denunciou uma "islamização crescente da Alemanha". Este ex-militante da CDU de Merkel, de 76 anos, afirma que o islão não é uma religião, e sim uma "doutrina política", e que o terrorismo tem as "suas raízes no Corão".

Os seus simpatizantes interromperam muitas vezes os encontros da chanceler com vaias e gritos, principalmente na ex-RDA (Alemanha de Leste).

"A república vai mudar", prevê o cientista político de Düsseldorf, Fabian Virchow, entrevistado pela AFP. No Bundestag vamos assistir a um endurecimento dos confrontos verbais. Os outros partidos vão se inclinar um pouco para a direita em temas como a ordem e a segurança", opina o investigador.

Parte dos dirigentes da AfD usa um vocabulário nazi, chamando Angela Merkel de "traidora da pátria, por exemplo", e questionando o consenso dos alemães sobre o arrependimento histórico. Gauland não hesitou em que exaltar "o desempenho dos soldados" do exército de Hitler, e alguns candidatos fizeram comentários revisionistas. A AfD é favorável à saída da Alemanha da zona do euro e defende uma postura tradicional sobre a família. Também pede a anulação do Acordo de Paris sobre o clima, um tema de proximidade com Donald Trump, ainda que o presidente americano tenha entretanto reformulado a sua posição.

Na foto em destaque, manifestantes protestam esta noite em Berlim em frente ao um evento realizado pela AfD [Alternativa para a Alemanha] de celebração dos resultados eleitorais.

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