Numa conferência de imprensa em Genebra, a secretária-geral da CNUCED, Rebeca Grynspan, salientou o impacto do acordo entre a Ucrânia e a Rússia, com mediação das Nações Unidas e Turquia, que reduziu os preços mundiais dos alimentos durante sete meses consecutivos.

“Ultrapassámos 14 milhões de toneladas que foram distribuídas através da Iniciativa de Cereais do Mar Negro”, disse Grynspan, sublinhando que estes são “volumes muito importantes para o mercado”.

O acordo, assinado a 22 de julho pela ONU, Ucrânia, Rússia e Turquia, e com uma duração de 120 dias, ajudou a atenuar a crise alimentar global causada pela guerra, tendo sido prorrogado por quatro meses.

Grynspan rejeitou as acusações de que as exportações de cereais da Ucrânia acabam em países ricos e não em países em desenvolvimento, e explicou que era necessário primeiro distinguir entre as exportações de cereais para gado e as destinadas ao consumo humano.

“Sejamos claros, a maioria das rações para animais nunca foi para países em desenvolvimento, é uma importação de países desenvolvidos”, disse Grynspan.

Em contraste, “os países em desenvolvimento beneficiaram grandemente da Iniciativa em termos de alimentos para consumo humano, argumentou Grynspan, referindo que dois terços das exportações de trigo vão para países em desenvolvimento.

No entanto, a antiga vice-presidente da Costa Rica reconheceu que o volume de cereais exportados se encontra abaixo do nível de 2021, dizendo que “ainda há um caminho a percorrer”.

A antiga vice-presidente manifestou receios de uma escassez de fertilizantes no próximo ano e disse que “o tempo é essencial, uma vez que a época da sementeira não é extensível”.

“É por isso que estamos a trabalhar arduamente para resolver este problema o mais rápido possível”, disse Grynspan.

A Rússia denuncia a não implementação de um segundo acordo também assinado a 22 de julho com a Ucrânia para permitir as suas próprias exportações de cereais e fertilizantes. Moscovo queixa-se de não poder vender a sua produção e fertilizantes devido às sanções ocidentais que afetam em particular os setores financeiro e logístico.

Neste momento, 17,7 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.

A invasão russa — justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.

A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 6.755 civis mortos e 10.607 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.