A condenação dos dois escritores está “em flagrante contradição com os padrões internacionais de proteção da liberdade de expressão”, afirmou a relatora especial da ONU sobre a situação dos Direitos Humanos na Rússia, Mariana Katzarova, em comunicado.

Além de ter exigido a libertação imediata, aquela responsável apelou ainda às autoridades russas para que investiguem as alegações de que terá havido tortura e maus-tratos a um dos poetas, Artiom Kamardine, durante a detenção.

Na semana passada, um tribunal de Moscovo condenou aqueles dois poetas russos a penas de prisão de até sete anos e o caso está a ser encarado como um novo exemplo do crescente clima de repressão na Rússia.

Artiom Kamardin e Iegor Shtovba foram detidos em setembro de 2022, após participarem numa leitura pública na Praça Triumfalnaya, em Moscovo, perto do monumento ao poeta Vladimir Mayakovsky, ponto de encontro de dissidentes desde a era soviética.

Durante a leitura, Artiom Kamardine recitou um poema, designado como “Mata-me, miliciano!”, muito hostil aos separatistas pró-Rússia no leste da Ucrânia.

No dia seguinte, Kamardine foi detido na sequência de uma rusga à sua casa, durante a qual foi, segundo alegou, espancado e violado com um haltere pelos polícias.

Acusados inicialmente de “incitação ao ódio”, os dois poetas foram depois indiciados por “apelos públicos à prática de atividades contra a segurança do Estado”.

“Não sou um herói e ir para a prisão pelo que penso nunca fez parte dos meus planos”, disse Artiom Kamardine nas alegações finais em tribunal, que foram depois publicadas pelos seus apoiantes na plataforma Telegram.

Kamardine implorou ainda ao juiz para que o deixasse “voltar para casa”, prometendo, em troca, manter distância de qualquer “assunto delicado”.

A Rússia tem vindo, nos últimos anos, a suprimir todas as vozes críticas do regime do Presidente Vladimir Putin, mas a campanha de repressão aumentou dramaticamente com o lançamento da ofensiva militar contra a Ucrânia, em fevereiro de 2022.