"Não conheço pessoalmente o engenheiro Manuel Vicente [ex-vice presidente de Angola e antigo presidente da Sonangol]. Só conheço o engenheiro Armindo Pires [amigo de longa data de Manuel Vicente] e não solicitei nada a Orlando Figueira que não fosse no exercício da minha profissão de advogado", referiu Paulo Blanco, que, pelo terceiro dia consecutivo, continuou hoje a prestar declarações no julgamento, que decorre no Campus de Justiça, Lisboa.

Paulo Blanco, que responde pelos crimes de corrupção ativa, branqueamento de capitais, violação do segredo de justiça e falsificação de documentos, voltou a rebater ponto por ponto a acusação, insistindo que só conheceu o arguido Armindo Pires em 29 de novembro de 2011.

Em seu entender, isso torna impossível o seu envolvimento num alegado acordo destinado a subornar o então procurador do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) Orlando Figueira para arquivar inquéritos relativos a Manuel Vicente.

"É grave pensar-se que corrompi magistrados do Ministério Público", enfatizou Paulo Blanco, negando que alguma vez tivesse pedido a Orlando Figueira para eliminar o nome de Manuel Vicente nos inquéritos em que o ex-vice-presidente de Angola era visado.

Paulo Blanco sublinhou que até hoje nunca falou com Manuel Vicente e que apenas pediu a Orlando Figueira a concessão de um prazo para juntar documentos ao processo, os quais lhe foram entregues por Armindo Pires, em representação de Manuel Vicente.

Durante a audiência de hoje, Paulo Blanco foi confrontado com o facto de ter elaborado a minuta de um contrato-promessa de trabalho de Orlando Figueira e de ter prestado outros serviços jurídicos relativos ao divórcio do magistrado.

Quanto ao contrato-promessa, alegou que nada teve a ver com o contrato definitivo que foi assinado mais tarde entre Carlos Silva, presidente do Banco Privado Atlântico (BPA), e Orlando Figueira, para este último ir trabalhar para a banca angolana, aproveitando, contudo, para testemunhar que Carlos Silva assumiu à sua frente a intenção de vir a contratar os serviços do então procurador do DCIAP.

No seu depoimento, Paulo Blanco afastou também a ideia de que Carlos Silva, vice-presidente do BCP e presidente do BPA, fosse um testa-de-ferro de Manuel Vicente, assegurando que "não é verdade" que o antigo presidente da Sonangol e ex-vice-presidente de Angola "desse quaisquer instruções" ao banqueiro Carlos Silva.

"Carlos Silva tem uma pista própria", disse, insistindo que Carlos Silva "não recebe ordens de ninguém", pois é "ele que manda no BPA".

Quanto às decisões de Orlando Figueira de arquivar inquéritos que envolviam Manuel Vicente, Paulo Blanco indicou que os mesmos foram validados pela procuradora adjunta Teresa Sanchez e pela então diretora do DCIAP Cândida Almeida.

"É falso que Teresa Sanchez tivesse autonomia reduzida", acrescentou o arguido, revelando que, num almoço com magistrados angolanos, aquela procuradora do DCIAP elogiou a tese apresentada por uma empresa angolana para justificar a aquisição de um apartamento no Estoril.

Orlando Figueira está acusado de corrupção passiva, branqueamento de capitais, falsificação de documentos e violação do segredo de justiça.

A 'Operação Fizz´ assenta na ideia de que o ex-vice-residente de Angola Manuel Vicente corrompeu Orlando Figueira com o pagamento de 760 mil euros, para que este arquivasse dois inquéritos, um deles o caso da empresa 'Portmill', relacionado com a aquisição de um imóvel de luxo no Estoril.

Manuel Vicente foi acusado de corrupção ativa, mas o seu processo foi separado da 'Operação Fizz' no início do julgamento, numa altura de tensão nas relações diplomáticas entre Angola e Portugal e vários apelos públicos ao desanuviamento das mesmas.

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