Com grande parte da entrevista às eleições internas, o presidente e recandidato ao cargo, Rui Rio, considerou hoje que Paulo Rangel, o principal opositor do PSD, “não está preparado para ser primeiro-ministro”, ao contrário de si próprio.

Na entrevista à RTP3, Rui Rio considerou que “mal seria” se ele próprio não estivesse preparado para ser primeiro-ministro ao fim de quatro anos de liderança.

Questionado se Paulo Rangel, com quem disputará eleições diretas para a presidência do PSD em 27 de novembro, estará preparado para essa função, Rio respondeu: “Acho que não, ninguém consegue estar preparado [para ser primeiro-ministro] dois meses depois” de eleições internas.

“Não está, isto para mim é claro. Se me dissessem, quando entrei para o PSD em fevereiro [de 2018], que em maio ia disputar legislativas… eu não estava. Ainda por cima dois meses e com disputa interna”, afirmou.

Rio está disponível para "conversar" com o PS

O presidente do PSD e recandidato ao cargo manifestou-se disponível para “conversar” com o PS sobre a viabilização do governo caso os socialistas vençam, mas também disse esperar o contrário se forem os sociais-democratas a ganhar.

Na mesma entrevista, Rui Rio afirmou ainda que, se vencer as diretas para a liderança do PSD e as legislativas, estará disponível para “negociar à esquerda e à direita” para a viabilização do seu governo, considerando que “é dificílimo” qualquer um dos partidos ter maioria absoluta.

“Se nós ganharmos estou disponível para negociar à minha esquerda, leia-se PS, ou à minha direita, leia-se CDS e IL. Com CDS e IL, pode ser pela integração de membros desses partido no governo, com o PS não é integração de membros do PS no governo — isso seria Bloco Central e não vejo necessidade e até podia ser perigoso —, mas acho que deve haver negociação para conseguir-se governabilidade”, defendeu.

Questionado se, caso os socialistas vençam sem maioria, “o seu PSD” viabilizará um governo do PS, Rio admitiu esse cenário, embora recusando qualquer possibilidade de integrar como vice-primeiro-ministro um executivo socialista.

“O meu PSD está disponível para conversar com o PS, até porque senão o que acontece — não por culpa do PS, mas por culpa minha — é atirar com o PS para cima do PCP e do BE. Não percebo quem critica tanto o dr. António Costa ter-se encostado tanto ao PCP e ao BE, mas que diz que ‘comigo não conversa’”, afirmou, numa crítica ao seu opositor interno Paulo Rangel.

À pergunta se se deve voltar ao cenário pré-2015, em que o partido vencedor tem o benefício da dúvida, Rio considerou que “é o normal” que “humildemente” PS e PSD possam reconhecer mutuamente a vitória de um ou de outro.

Nós vamos a eleições, um ganha, outro perde, um fica em primeiro, outro em segundo. O que o país exige é que, no limite se não houver outra solução, não vamos ficar com um governo de gestão seis meses à espera que a Assembleia possa voltar a ser dissolvida”, afirmou.

Rio considerou mesmo que “o pior cenário” que pode sair das legislativas de 30 de janeiro é que PS e PSD tenham uma posição “igual à de António Costa” na atual legislatura, que acusou de se ter colocado nas mãos de PCP e BE ao recusar falar com o PSD.

“Se o dr. António Costa insistir em fazer isso e o PSD insistir em fazer isso também — e o meu adversário diz que é isso que faz — o país fica na ingovernabilidade”, advertiu.

Ainda em matéria de cenários de governação, Rio admitiu que, se o PSD ficar em segundo, mas consiga uma maioria parlamentar com CDS-PP e IL, se forme uma ‘geringonça’ à direita, excluindo o Chega.

“Nesse caso, tinha a obrigação de tentar conseguir isso com CDS e IL, se concordei com o que se fez nos Açores, também teria de concordar”, disse.

Questionado se exclui o Chega por este ainda não se ter moderado — linha que tinha defendido no passado —, Rio defendeu que sempre retirou o partido liderado de André Ventura de uma coligação governativa pré ou pós-eleitoral.

“Como o Chega diz que não há apoio do Chega se não houver ministros dele no governo, o problema desapareceu”, afirmou.

O caso dos diamantes

"Tenho simpatia pelo ministro da Defesa. Mas estou a imaginar-me primeiro-ministro e a ver na televisão e ter de telefonar-lhe a perguntar 'o que é que é isto'. É complicado como um ministro deixa assim o governo e deixa mal o presidente", disse esta quarta-feira Rui Rio.

Questionado na RTP sobre se o caso do alegado tráfico nas Forças Armadas, Rui Rio admite que a não comunicação do caso ao primeiro-ministro deixa o ministro da Defesa fragilizado — sublinhando que tem simpatia pessoal por João Gomes Cravinho. "Foi uma situação grave. Para mim é particularmente grave o primeiro-ministro ter um membro do governo que não o põe a par de uma situação destas", afirmou.

Rui Rio salienta que, sem António Costa ser informado pelo seu ministro, também o presidente da República, responsável máximo pelas Forças Armadas, ficou sem conhecimento do caso. "Um parecer pedido para saber se podia dizer ao primeiro-ministro, é uma história mal contada. É particularmente grave que o ministro não o ponha a par, é muito esquisito", disse ainda, afirmando que devia ser o primeiro-ministro a informar o chefe de Estado do sucedido.

Marcelo não comenta relações com o governo

À saída de um encontro com jovens na Livraria Barata, em Lisboa, a comunicação social questionou sucessivamente o chefe de Estado  — e Comandante Supremo das Forças Armadas —, sobre este assunto, perguntando-lhe se entende que foi desconsiderado pelo ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho, e se espera explicações formais do governo.

A todas essas perguntas Marcelo Rebelo de Sousa respondeu que não comentava, limitando-se a reiterar a opinião de que "a reputação das Forças Armadas Portuguesas estava intacta" na sequência da Operação Miríade, no âmbito da qual a Polícia Judiciária (PJ) executou cem mandados de busca e deteve onze pessoas, incluindo militares e ex-militares.

Questionado se neste caso se verificou uma nova falha de comunicação entre o ministro da Defesa e o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa retorquiu: "Não levem a mal, mas eu não tenho mais nada a comentar. Percebo a vossa curiosidade, estão na vossa função, mas eu também estou na minha função".

Num comunicado sobre a Operação Miríade, o Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA) referiu que alguns militares portugueses em missões da ONU na República Centro-Africana podem ter sido utilizados como "correios no tráfego de diamantes”, adiantando que o caso foi reportado em dezembro de 2019.

Na terça-feira, em Cabo Verde, o chefe de Estado relatou que o ministro da Defesa lhe tinha explicado que "na base de pareceres jurídicos tinha sido entendido que não devia haver comunicação a outros órgãos, nomeadamente órgãos de soberania, Presidência da República ou parlamento".

Hoje, interrogado se compreende o enquadramento jurídico-constitucional para esta decisão, o presidente da República respondeu: "Eu disse ontem [terça-feira] apenas os factos. Eu não quero comentar".

Perante sucessivas perguntas, sobre os pareceres mencionados e sobre se no seu entender houve uma desconsideração ou excesso de zelo, a sua resposta foi a mesma.

Quanto ao processo judicial, afirmou apenas que "está em curso, como hoje foi patente e notório", escusando-se a fazer qualquer comentário.

Marcelo Rebelo de Sousa defendeu novamente que as Forças Armadas Portuguesas têm uma reputação internacional que "prestigia o país" e que "é motivo de orgulho" da sua parte.

"Vejam bem, milhares de militares portugueses serviram nas forças nacionais destacadas ou servem. E, portanto, aquilo de que se fala é uma realidade, comparada com esse serviço fundamental à humanidade, que não tem comparação", argumentou.

O chefe de Estado acrescentou que tem ouvido "o testemunho de vários chefes de Estado, africanos, em primeira linha, mas em geral chefes de Estado, e do próprio secretário-geral das Nações Unidas louvando a excelência presença portuguesa em vários pontos, não apenas num ponto, em forças nacionais destacadas".

*Com Lusa

(Artigo atualizado às 00:42)