Kara-Murza disse também estar orgulhoso pelas suas declarações públicas e comportamento, e pelos quais enfrenta indiciamentos por traição e propagação de falsa informação sobre o desempenho do Exército russo na Ucrânia.

Kara-Murza, um jornalista e um conhecido opositor do Kremlin, está detido há um ano e o seu julgamento decorre à porta fechada. As sus declarações foram emitidas no final da sessão, através de uma declaração divulgada em diversos ‘media’ russos.

Ao pronunciar-se num tribunal de Moscovo, considerou que o nível de opacidade das acusações que lhe são dirigidas ultrapassa a utilizada nos julgamentos dos dissidentes soviéticos das décadas de 1960 e 1970, e que a linguagem utilizada constitui uma reminiscência da década de 1930, quando milhares de cidadãos soviéticos foram detidos, acusações fabricadas e julgamentos encenados, numa referência ao período das perseguições de Estaline à velha guarda do Partido bolchevique.

Maria Eismont, advogada de Vladimir Kara-Murza disse na quinta-feira que o procurador presente no seu julgamento pediu uma pena de 25 anos de prisão.

Os ‘media’ russos citaram a advogada, que terá indicado que o procurador está a pedir uma sentença que deve ser cumprida em “estrito regime” numa colonia penal, onde as condições são duras e com os prisioneiros detidos em celas e não em barracões coletivos.

A defesa também apresentou hoje os seus argumentos, antes da declaração do detido, e na qual disse estar detido devido às suas opiniões políticas, “por se pronunciar contra a guerra na Ucrânia e combater durante muitos anos a ditadura de [Presidente russo Vladimir] Putin.

“Não só não me arrependo como estou orgulhoso”, disse, para acrescentar que “aqueles que tentam travar esta guerra que são reconhecidos como criminosos”.

Segundo a acusação, Kara-Murza difundiu “conscientemente informação falsa” ao acusar o exército russo de bombardear zonas residenciais, hospitais e escolas na Ucrânia, durante uma intervenção perante a câmara de representantes do estado do Arizona, nos Estados Unidos, em março de 2022.

Kara-Murza é ainda acusado de alta traição, que na Rússia implica uma pena de até 20 anos de prisão, e de trabalhar para uma organização não-governamental (ONG) declarada indesejável pela justiça russa.

Kara-Murza é considerado pela ONG Amnistia Internacional como um preso de consciência e era próximo de Boris Nemtsov, morto perto do Kremlin em 2015.

Segundo o coletivo de investigação Bellingcat, Kara-Murza estava a ser vigiado pela mesma unidade do Serviço de Segurança Federal (FSB, serviços secretos russos) que terá envenenado o líder da oposição Alexei Navalny, que está a cumprir oito anos de prisão.

Em outubro de 2022, Kara-Murza foi distinguido com o prémio Václav Havel de Direitos Humanos, concedido pelo Conselho da Europa.

A Human Rights Watch (HRW) pediu hoje a libertação de Kara-Murza, cuja sentença será conhecida na próxima segunda-feira, após julgamento à porta fechada.

“Vladimir Kara-Murza foi detido, julgado e está a enfrentar uma pena de prisão monstruosa por não mais do que levantar a sua voz e elevar as vozes de outros na Rússia que discordam do Kremlin, da sua guerra na Ucrânia e da sua crescente repressão na Rússia”, afirmou o diretor da HRW para a Europa e Ásia Central, Hugh Williamson.