Em declarações aos jornalistas no final de uma visita de trabalho àquele hospital, acrescentou que ali “está a ser exercida uma pressão inadmissível sobre os médicos de determinadas especialidades para fazerem um trabalho que não lhes compete”.

“Os médicos não podem entrar em vários locais ao mesmo tempo”, alertou.

Explicou que os médicos estão a dar apoio aos doentes que estão internados em cirurgia e ao mesmo tempo a apoiar também os doentes que chegam da urgência.

“E quero relembrar aqui que doentes internados são doentes que, normalmente, estão internados porque têm uma situação grave, estão internados porque estão em áreas altamente diferenciadas”, sublinhou.

Carlos Cortes lembrou que os médicos “não se conseguem duplicar” nem “estariam a prestar condições adequadas de segurança para esses doentes”.

“Se um hospital não tem capacidade para intervir, para dar uma resposta urgente em determinada área, esses doentes têm de ser encaminhados para outra área”, apelou, dando conta de “dificuldades e entraves” para o Hospital de Braga enviar esses doentes para os hospitais de referência, nomeadamente os hospitais do Porto.

O bastonário aludiu mesmo a uma “discriminação negativa incompreensível” do Hospital de Braga, “a quem não está a ser a dar a ser dado o apoio adequado de colaboração dos outros hospitais para atender esses doentes específicos”.

Para Carlos Cortes, a administração do Hospital de Braga e a direção executiva do Serviço Nacional de Saúde “têm de rapidamente, já hoje, resolver esta situação grave de insuficiência de resposta no hospital na área da cirurgia geral”.

"Vou sair daqui com uma enorme preocupação, muito maior do que aquela que eu já tinha antes de entrar neste hospital, porque foram-nos reportadas aqui situações, várias situações, nomeadamente na área da urgência, em que a segurança dos doentes pode estar comprometida", disse ainda.

A Lusa contactou a administração do hospital, mas ainda não obteve uma reação.

Esta questão já tinha sido levantada, em outubro, pelo movimento Médicos em Luta, que disse que os cirurgiões do Hospital de Braga estão “exaustos e à porta do 'burnout'”, devido à “enorme sobrecarga” a que estarão a ser sujeitos.

Em declarações à Lusa, a porta-voz do movimento, Susana Costa explicou que em causa estão “manobras” dentro do hospital para forçar aqueles profissionais a atender também doentes externos, quando apenas deveriam atender os doentes internos ou os que entram e precisam de uma cirurgia urgente, uma vez que as equipas “estão reduzidas ao mínimo”.

Na altura, a administração do hospital alegou que apenas “foram dadas indicações” aos médicos, “no sentido de garantir o atendimento aos utentes, particularmente das situações urgentes e emergentes”.

“Foram dadas indicações aos médicos para que a equipa que se encontra de urgência acorra às solicitações que lhe forem efetuadas, quer do internamento, quer do serviço de urgência, apenas na estrita medida da prioridade clínica e não com base no local onde o doente se encontra”, referiu.