Na altura em que foi feito este referendo, nunca tentado em outra cidade e promovido pela presidente da câmara Anne Hidalgo, este resultou em 89% dos parisienses a rejeitar este meio de transporte e apenas 11% a apoiar, segundo o jornal francês Le Monde.

Logo nesse dia, Hidalgo elogiou o referendo consultivo nas redes sociais como um sucesso e referiu que o resultado foi "muito claro". “Não haverá mais trotinetes de self-service em Paris a partir de 1 de setembro”, sublinhou na altura.

Este referendo acontece depois de existir uma preocupação crescente com a forma como algumas pessoas conduziam trotinetes elétricas na cidade: ziguezagueando no trânsito, esquivando-se dos peões nos passeios e atingindo velocidades de 27 quilómetros por hora.

Os passageiros muitas vezes não usavam capacete e qualquer pessoa a partir dos 12 anos podia alugar legalmente este equipamento. Houve também críticas relacionadas com grupos de trotinetes estacionadas que estavam a obstruir os passeios.

Tendo em conta todos estes problemas, em especial a velocidade, foram registados 408 acidentes relacionados com trotinetes no ano passado em Paris, nos quais três pessoas morreram e 459 ficaram feridas, de acordo com as autoridades.

É importante recordar que esta já não é a primeira vez que as trotinetes são vítimas de uma ação do governo em Paris. Estes veículos, acedidos através de aplicações de telemóvel, operam em Paris desde 2018, mas na sequência de reclamações sobre a sua implantação anárquica, em 2020 a cidade reduziu o número de operadores para três.

Nesse contexto, concedeu-lhes um contrato de três anos, exigiu que a velocidade das trotinetes fosse limitada a 20 quilómetros por hora e impôs áreas designadas de estacionamento das mesmas, semelhantes às restrições impostas em outras cidades do mundo, nomeadamente em Lisboa. Os contratos atuais acabam agora no dia 1 de setembro e não serão renovados.

Na altura da votação, estimava-se que Paris tinha 15.000 trotinetes espalhadas pelas ruas, operadas pelas empresas Lime, Dott e Tier, segundo o jornal The Guardian.

Desde que foi decidido que a proibição iria entrar em vigor, as operadoras têm começado a retirar os seus equipamentos da cidade. No caso da Dott, esta recolha já acontece desde julho, mas a Tier terá apenas começado agora.

De acordo com a revista Monocle, o excesso de trotinetes indesejadas por Paris irá passar a viver em cidades que ainda as permitem, como Londres, Copenhaga, Tel Aviv ou mesmo alguns subúrbios da capital francesa, que não são afetados por esta decisão.

Hidalgo espera agora uma transição das trotinetes elétricas para as bicicletas elétricas, visto que Dott e Tier oferecem ambos os meios de transporte.

No resto da Europa também existem outras cidades com restrições a trotinetes elétricas, apesar de Paris ser o local mais restritivo. Em Madrid, a administração local reverteu este ano uma proibição anterior para permitir que as empresas voltassem à cidade com novas condições, da mesma forma que Copenhaga em 2021. Noutros países da Europa, como é o caso dos Países Baixos, a maioria das trotinetes elétricas são proibidas na via pública, e nenhuma empresa entrou no país, que continua a preferir as tradicionais bicicletas.

Nos Estados Unidos da América (EUA), algumas cidades optaram por expulsar as trotinetes de algumas zonas turísticas, nomeadamente nas cidades de Nova Orleans e Las Vegas. Porém, o uso destes equipamentos permanece em 158 outras cidades do país, segundo o Bureau of Transportation Statistics.