Na sua intervenção de fundo no debate do estado da Nação, Passos Coelho afirmou ainda que "caiu a máscara do fim da austeridade", atribuindo os resultados económicos conseguidos a um ‘plano B', que passou por cortes em várias áreas.

"A meio da legislatura o país descobriu que a economia pode até estar a andar melhor, mas que a responsabilidade política está a fracassar em grande estilo", acusou.

Para Passos Coelho, depois dos incêndios de Pedrógão Grande, onde morreram pelo menos 64 pessoas, e do furto em instalações militares, "a geringonça, que se habituou aos ventos favoráveis e às boas notícias, ainda não encontrou um caminho para responder aos anseios dos portugueses".

"Mas agora que ficaram expostas as fragilidades, as contradições, as simulações, o calculismo e o populismo latente, agora começa a sentir-se que precisamos coletivamente de mais qualquer coisa. O país precisa, pelo menos, de liderança e de objetivos mobilizadores e efetivos", afirmou.

"Precisamos, enquanto país, de muito mais", defendeu, considerando que "ficar unicamente à espera de melhores ventos e da sorte não chega".

O líder do PSD reconheceu que o país tem registado “progressos importantes nos esforços de consolidação orçamental, no crescimento e na abertura da economia”, mas considerou que este caminho começou ainda no anterior executivo PSD/CDS e só prosseguiu porque o executivo PS “mudou de orçamento e pôs em marcha um plano B”.

“Neste estado da Nação caiu a máscara do fim da austeridade. Está defunta a fantasia de que, antes de a geringonça existir, só por obsessão ideológica se não investia mais ou gastava mais nas políticas públicas, sociais ou de soberania. Está enterrada a mistificação de que havia uma alternativa à restrição orçamental e de que bastava a esquerda agitar a sua varinha mágica para que a consolidação se verificasse sem cortes e sem dificuldades”, referiu.

Como exemplos, Passos Coelho citou cortes de “despesa de capital tão relevantes como menos 29% na saúde, 32% no trabalho e solidariedade, 66% no ensino básico, 48% na ciência e ensino superior, 28% na justiça ou 24% na segurança interna”, números contestados pelo socialista João Galamba.

“Não vi aqui o reconhecimento de que estava errado. Depois do fracasso total da sua estratégia, vem apresentar-se como defensor da despesa pública e do Estado social”, criticou o porta-voz do PS, que acusou ainda o líder do PSD de “oportunismo” por aproveitar “duas tragédias” que “nada têm a ver com a política deste Governo”.

“Não há problema em mudar de posição. Tem de fazer aqui o que nunca fez, reconhecer que estava errado”, afirmou João Galamba, dizendo que, até lá, “ninguém o levará a sério".

Na resposta, Passos Coelho replicou que tem tido sempre “uma intervenção muito coerente” e que foi o Governo que deu "uma pirueta" que pode até ser considerada "uma fraude democrática".

"Não fui eu que mudei de posição, foi o senhor, e os deputados do PCP e do BE e do PEV. Não imagina como é bom ouvi-los contorcerem-se, fazendo críticas ao passado, quando a vossa política não está em linha com o que prometeram e nessa medida representa uma fraude democrática", disse.

Reiterando que, mesmo nas áreas onde houve ligeiros aumentos orçamentais, estes desapareceram com a inflação, Passos considerou que, descontando o aumento dos salários dos funcionários públicos, "então o dinheiro que lá ficou não dava para o petróleo”.

Na sua intervenção inicial, Passos aconselhou o Governo a abandonar o que disse ser uma estratégia de “desresponsabilização e de passa-culpas”.

“A retórica habitual, sempre que alguma coisa falha, resume-se a que a culpa nunca é vossa. Ou ainda é minha, que já saí do Governo há praticamente dois anos, ou é do mundo Inteiro. Mas essa infantilização da política não se coaduna com a enorme responsabilidade que hoje têm na governação do país”, afirmou.

[Notícia atualizada às 18:08]