"A primeira palavra que a todos ocorre é de gratidão para com Pedro Passos Coelho", começou assim Pedro Santana Lopes que expressou solidariedade e gratidão "pelos nossos filhos e pelos nossos netos" ao líder social democrata que na sexta-feira saiu de cena. "Todos estamos gratos pelo trabalho que ele fez", sublinhou.

Seguiu-se "uma palavra a quem cessa funções - nomeando em concreto e de uma assentada Matos Rosa, Hugo Soares e "estendendo igual cumprimento a Luís Montenegro" "pelo trabalho que desenvolveram de  oposição à frente de esquerda". Cumprimentos feitos, Santana passou à explicação do "estado" em que chega a este congresso do PSD.

"Liberdade é a palavra que melhor casa com o PPD/PSD. É por isso que foi natural o entendimento a que procurámos chegar. Liberdade tem de casar com responsabilidade, sentido de responsabilidade. É isso que está em causa nas opções que estamos a tomar neste congresso. A iniciativa da convergência política coube a Rui Rio - o mérito cabe a Rui Rio. Quando se critica quem  não faz, há que saber reconhecer quem faz e Rui Rio teve o gesto que muitos não fizeram".

Depois da "batalha" o "entendimento"

Eis chegada a altura da clarificação. Pedro Santana Lopes quer explicar como chegaram até ali, como é que ele, o candidato vencido, chegou ao entendimento com o "seu presidente", Rui Rio, um "homem corajoso" como diria mais à frente. "Foi natural o entendimento a que procurámos chegar depois da batalha mais ou menos intensa que durou o calendário. Com responsabilidade. É isso que está em causa na opções com congresso que estamos a tomar. Somos um partido só. Um partido que tem um presidente. Um partido que tem equipas dirigentes em listas que são votadas amanhã. A nós todos cabe-nos ajudar a ganhar na tarefa que tem pela frente."

O que esteve em cima da mesa? "Falámos da disponibilidade para trabalhar em conjunto em nome do interesse nacional. A reforma da justiça, do sistema político, da segurança social. Reformas que podem ser trabalhadas com o Partido Socialista e outros que estejam interessados em o fazer. Oxalá os outros correspondam à disponibilidade de Rui Rio".

Este é o discurso da união, mas Pedro Santana Lopes não quis deixar passar em branco o que se passou nos bastidores que antecederam este congresso. E é assim que retoma o tratamento por "tu" que caracterizou o debates das diretas frente a Rui Rio e de cima do palco encetou uma espécie de diálogo, como se aquela fosse uma conversa entre os dois, naquilo que na realidade seria o cerne da mensagem que quis passar para dentro e para fora do partido - e sobretudo para dentro, já que é entre companheiros que se encontram.

"Não gostei de ver tentarem condicionar-te ainda antes de estares aqui neste congresso. Tens todo o direito de executar a tua estratégia". Mais à frente, voltará a lembrar esses que procuraram condicionar o novo líder - e implicitamente a sua estratégia de aliança com ele, Santana, seu adversário de diretas. Dirá que não gosta do "chico-espertismo" e que mal bastou a Rio ganhar o partido para perder o estado de graça. Dito com a ironia que o caracteriza.

Houve tempo ainda para se falar de um dos temas mais fraturantes das diretas: o bloco central e a relação com o partido socialista. Santana quis e precisou de dizer o que disse sobre o tema das coligações, matéria onde não deixou claro que não vai perder a face. "Disseste aqui o que disseste ao longo da campanha, que o bloco central não se colocava. Tratava-se de viabilizar ou não um governo do PS - e isso não é bloco central. A questão da viabilização é muito complexa - eu disse-te que sim, se eles batessem com a mão no peito e se fosse ao contrário viabilizassem um governo nosso - e não acredito nisso com António Costa".

O tema das divergências sobre as listas com algumas distritais a reclamarem durante a tarde da falta de representatividade - e a unirem-se numa lista aos órgãos nacionais - não foi esquecido. “Unamo-nos, queremos mesmo ganhar as europeias e as regionais na Madeira”, disse, aproveitando a referência a estas eleições para se desculpar por algumas ausências na lista de unidade ao Conselho Nacional.

“Vi a lista que encabeço quase só no fim, não cabe tudo. Peço imensa desculpa pelas falhas que se cometem ou injustiças que existem. O importante é o nosso PPD/PSD”, afirmou.

Como se esperava, Pedro Santana Lopes saiu do palco com uma ovação. O primeiro abraço foi, claro, a Rui Rio.