Os bombeiros, oriundos de corporações de todo o país, começaram a concentrar-se junto ao Tribunal Judicial de Leiria cerca das 08:30 e, pelas 09:20, quando chegou Augusto Arnaut, formaram duas filas para fazer guarda de honra ao comandante, ao qual prestaram continência.

Augusto Arnaut, sem prestar declarações aos jornalistas, fez saber, através da sua advogada, Filomena Girão, que esta demonstração de solidariedade lhe causou profunda emoção e disse esperar que “o seu silêncio seja ruidoso e exponha tudo o que vai na alma”.

Os bombeiros, muitos dos quais comandantes de corporações ou elementos do comando que respondem à chamada de primeira intervenção nos incêndios, manifestam assim solidariedade para com o comandante de Pedrógão Grande. Os soldados da paz deverão manter-se em silêncio até ao final das alegações da mandatária de Augusto Arnaut, Filomena Girão.

À chegada ao tribunal Augusto Arnaut recebeu ainda cumprimentos do presidente da Câmara de Leiria, Gonçalo Lopes, “num gesto de solidariedade da autarquia”, disse o autarca à Lusa.

De acordo com o oficial de comando do policiamento da PSP, Filipe Martinho, no local estão cerca de 200 bombeiros.

Em 20 de maio, a direção dos Bombeiros de Pedrógão Grande apelou aos comandos das corporações de bombeiros do país para marcarem presença nesta sessão de julgamento.

O apelo surgiu num ofício que a direção da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Pedrógão Grande enviou às associações, federações e Liga de Bombeiros Portugueses, dois dias depois de o Ministério Público ter pedido a condenação a prisão efetiva, superior a cinco anos, do comandante de Augusto Arnaut.

“Apelamos aos elementos do comando (e só comando) que porventura se disponibilizem a estar presentes que o façam devidamente ataviados, com farda (se possível) de gala, demonstrando dessa forma o orgulho que sentem ao poder envergá-la”, refere o ofício.

No mesmo documento, lê-se também um apelo endereçado aos elementos diretivos das corporações do país, para estarem presentes no dia em que será proferida a sentença, “uma vez que a mesma poderá abrir um precedente demasiado gravoso para a vida de uma qualquer associação de bombeiros, em virtude do que está a ser pedida a título indemnizatório por vários hospitais deste país e algumas das vítimas dos referidos incêndios”.

“A acontecer a condenação do nosso comandante, levaria a que esta associação humanitária encerrasse as suas portas e deixasse de exercer a razão da sua existência”, adianta o documento.

No ofício da Associação Humanitária, foi sublinhado ainda que “é chegada a hora dos bombeiros deste país se unirem, de uma forma ordeira e disciplinada”, manifestando “a sua total solidariedade para com o camarada” que consideram ter feito “o que devia e podia, com os escassos meios que teve”.

“Por isso, é nosso entendimento que não foi só ao comandante dos Bombeiros Voluntários de Pedrógão Grande a quem foi pedida a condenação, mas, sim, a todos os bombeiros portugueses que, no futuro, possam vir a exercer a função de comandante de operações de socorro, num qualquer teatro de operações, em que, por infortúnio, a situação possa deixar de estar sob o total controlo de quem comanda no momento”, lê-se no ofício.

O Ministério Público defendeu a condenação a prisão efetiva, superior a cinco anos de Augusto Arnaut, no processo sobre os incêndios de junho de 2017, nos quais foram contabilizados 63 mortos e 44 feridos quiseram procedimento criminal.

“[Augusto Arnaut] Deve ser condenado pelos crimes de que foi pronunciado numa pena de prisão efetiva, superior a cinco anos, atendendo à culpa e às elevadas necessidades de prevenção geral e especial que se fazem sentir”, afirmou a procuradora da República Ana Mexia, nas alegações finais do julgamento, no Tribunal Judicial de Leiria.

Augusto Arnaut está a ser julgado por 63 crimes de homicídio e 44 de ofensa à integridade física, 12 dos quais graves, todos por negligência.