Segundo o relatório do inquérito interno da Guarda Nacional Republicana (GNR) à atuação dos militares envolvidos nas operações no incêndio de Pedrógão Grande, “as primeiras instruções de coordenação recebidas pela Guarda” do Posto de Comando (PC) da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) “para a regularização e corte de trânsito no teatro de operações, designadamente na EN 236-1, foram emitidas pelas 22:00″.

O número de vítimas mortais na EN 236-1 foi de 33 (30 num pequeno troço da via e três alguns quilómetros adiante), tendo os restantes 14 morrido “em estradas e caminhos de acesso à EN 236-1, para a qual se dirigiriam em fuga do incêndio”, de acordo com documento do Governo.

O comandante da ANPC que comandou as operações de combate aos incêndios entre as 19:55 e as 22:00 afirmou, segundo o relatório, “nunca ter tido conhecimento de que o incêndio estava perto da EN-236, pelo que não deu instruções para o corte de trânsito naquela via”.

Disse ainda ser da opinião que o corte desta estrada “seria difícil e perigoso, dada a forma como o incêndio evoluiu e devido ao número de pequenas localidades que a utilizam como único acesso”.

De acordo com o documento, até às 21:44 de 17 de junho “não foram tomadas medidas de interrupção do trânsito na EN 236-1, no nó do IC 8, em direção a Castanheira de Pêra, dado que a patrulha de trânsito que ali permaneceu entre as 19:50 e as 20:10 e as patrulhas que por ali circularam não observaram perigo para a circulação rodoviária, nem receberam instruções para o efeito”.

A GNR concluiu ainda que entre as 19:34 e as 21:12 de 17 de junho (sábado) e as 22:30 de sábado e as 02:00 de domingo foram os períodos em que o sistema de comunicações de rádio SIRESP “registaram maiores dificuldades de funcionamento”, acrescentando que o sistema alternativo experimentou as mesmas dificuldades desde as 19:00 de sábado até ao final da tarde de domingo.

Tendo em conta as conclusões do inquérito interno, o oficial instrutor propôs o arquivamento do processo pela “inexistência de elementos de facto que permitam imputar responsabilidade disciplinar a qualquer militar empenhado em apoio ao combate aos incêndios na região de Pedrógão Grande”.

Propôs ainda que o Comando Territorial de Leiria da GNR proceda ao apuramento das causas do acidente entre um autotanque dos Bombeiros Voluntários de Castanheira de Pêra e um veículo civil, um acidente que provocou cinco feridos, um dos quais veio a morrer mais tarde, no hospital.

Pelo menos 47 pessoas morreram na EN 236-1.

O incêndio que deflagrou em Pedrógão Grande no dia 17 de junho, no distrito de Leiria, provocou, pelo menos, 64 mortos e mais de 200 feridos, e só foi dado como extinto uma semana depois.

Mais de dois mil operacionais estiveram envolvidos no combate às chamas, que consumiram 53 mil hectares de floresta, o equivalente a cerca de 75 mil campos de futebol.

O fogo chegou ainda aos distritos de Castelo Branco, através da Sertã, e de Coimbra, pela Pampilhosa da Serra e Penela.