A begin.media nasceu em 2015 pelas mãos de uma jornalista e de um gestor com experiência na publicidade online, Marta Velho e João Pedro Machado. Ambos decidiram lançar uma plataforma aberta à colaboração de todos os que querem escrever e partilhar as suas histórias com uma audiência. O projeto foi um dos finalistas do Prémio Nacional Indústrias Criativas, promovido pela Unicer e pela Fundação Serralves e os seus fundadores veem-no como uma "incubadora de jornalistas”.

Como nasceu a ideia do projeto begin.media?

João Pedro Machado - A begin.media nasce da elevada taxa de desemprego dos jornalistas e do excesso de vagas nos cursos de comunicação face ao mercado de trabalho. Observando estes dois fatores, percebemos que deveríamos criar uma publicação online onde estes jovens jornalistas pudessem publicar e se auto-promover.

Para tornar este modelo possível tivemos de reinventar as formas de sustentabilidade do jornalismo, e dos jornalistas. Criámos um sistema inovador de pagamento por artigo onde pedimos aos leitores para contribuir nos custos que cada autor (beginner) teve.

A begin.media é um projeto de media no sentido jornalístico do termo?

J.P.M. - Claro, mas vai mais além. Visualmente é um jornal digital com um número muito elevado de autores, mas por trás há um acompanhamento editorial e pedagógico de cada um dos beginners e um contacto muito próximo durante a execução dos artigos. Fazendo parte dos modelos de “jornalismo participativo”, há uma proximidade muito grande entre a equipa da begin.media, os mentores do projeto e os beginners. Poderemos chamar à begin.media uma incubadora de jornalistas.
É hoje mais fácil ou mais difícil lançar um novo projeto de media?

J.P.M. - Atualmente estão a aparecer em Portugal muitos projetos de media como o Observador com dois anos e meio, o Jornal Económico com uma semana ou o novo ECO que será lançado até ao final do ano. É um mercado com enorme dinamismo principalmente com a transformação do papel em digital e as novas plataformas de distribuição via app’s e o aparecimento das IoT, como os apple watch.
Têm também aparecido alguns fundos específicos para este setor.

O que se propõe fazer a begin.media? Como funciona?

J.P.M. - Queremos que os jovens jornalistas não abandonem os seus sonhos de fazer jornalismo ao não serem recrutados por um órgão de comunicação social tradicional. Mas para que possa ser sustentável, é necessário estes beginners serem remunerados e é aqui que a begin.media traz uma inovação no mercado.

Cada beginner, ao publicar um artigo, descreve os montantes gastos na execução do seu trabalho em termos de transportes, comunicações ou alimentação e pede ao leitor que lhe faça uma contribuição para abater aos custos.

Com uma enorme transparência, mostramos ao leitor que cada artigo, para existir, teve de haver investimento por parte do seu autor.

Uma parte muito interessante, é a possibilidade que damos ao leitor em opção de escolha da categoria de custos e o valor que quer contribuir, entre 0,10€ e 10€.

Qual o balanço que fazem destes primeiros meses?

J.P.M. - Até ao momento, já mais de 900 potenciais autores vieram ter connosco mostrando interesse em publicar trabalhos na plataforma e mais de 100 beginners já publicaram artigos na plataforma. O nosso balanço é que os jovens vêm um enorme valor na begin.media e estão empenhados em fazer a plataforma crescer e ser uma referência para o jovem jornalismo. Nestes primeiros meses entramos igualmente em diversas competições de startups ficando sempre muito bem qualificados tanto pela componente social como inovadora do projeto.

Quais são os vossos objetivos, ou o que consideram ser o vosso principal indicador de sucesso?

J.P.M. - Queremos chegar a mais geografias, ajudar mais jovens jornalistas a seguir o seu sonho e criar uma nova dinâmica onde os leitores compreendem o custo de produção de um artigo de qualidade. Teremos tanto mais sucesso quanto mais valor os leitores quiserem doar aos beginners, pois é aí que está a sustentabilidade do modelo e a capacidade real de ajudar o jornalismo.

Como avaliam o panorama de media atual em Portugal e no mundo?

J.P.M. - Os media estão a viver dias difíceis tanto em Portugal como no Mundo. O modelo de negócio que funcionou durante muitos anos simplesmente implodiu de uma forma demasiado rápida para um setor que é tradicional e tem vícios de negócio com muitos anos. A publicidade era a principal fonte de receitas de qualquer meio de comunicação, desde a rádio e televisão até à imprensa, e de um momento para o outro deixou de render.

Como consequência, surgem as reduções de custos, as fusões e aquisições de uns meios pelos outros e a facilidade de exercer pressões sejam sobre a forma de influência como financeira. Há cada vez menos capacidade financeira de fazer bom jornalismo de investigação e um crescimento significativo do jornalismo do “click”.

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