“Desde quando é que a habilidade pode ser confundida com uma virtude? A habilidade em política pode até ser um defeito”, considerou, num jantar-conferência na Universidade de Verão do PSD, que decorre em Castelo de Vide (Portalegre).
Na sua aula, Poiares Maduro defendeu que, atualmente, a política e os políticos são mais avaliados pela perceção do que pela qualidade das suas políticas, acusando o atual primeiro-ministro de “colocar a eficácia acima de tudo” e não ter tomado qualquer medida com uma preocupação de longo prazo.
“Acho que António Costa acorda todos os dias pela manhã, vai ao seu ‘focus group’ [grupo de foco] privativo e diz: ‘Focus meu, focus meu, quão popular sou eu’”, ironizou o ex-ministro adjunto e do Desenvolvimento Regional do Governo liderado por Passos Coelho.
Por essas razões, reiterou que a atual solução governativa tem “tiques de populismo”, embora sem classificar o executivo minoritário do PS como populista.
Poiares Maduro trouxe à sua intervenção o recente desafio do primeiro-ministro ao PSD para um consenso à volta das grandes obras públicas, questionando se este é de facto genuíno.
“A credibilidade de uma proposta de consenso do dr. António Costa tem a mesma credibilidade e sustentabilidade do cabelo do sr. Trump”, criticou, apontando que, enquanto líder da oposição, o atual primeiro-ministro “negou-se a qualquer consenso e fez tudo para dar cabo dos consensos que existiam”.
Ainda assim, o antigo governante diz que tal não deve implicar a recusa de qualquer consenso: “Significa que devemos tentar pegar nisso para exigir um consenso que seja assente em princípios genuínos”.
Poiares Maduro fez uma outra comparação entre o primeiro-ministro português e o presidente norte-americano, Donald Trump, referindo-se ao discurso da ‘rentrée’ socialista, em que António Costa acusou Passos Coelho de ter criticado os bombeiros, o que disse ser “factualmente falso”.
“Chocamo-nos com o sr. Trump e não nos chocamos com um primeiro-ministro em relação a um líder da oposição dizer algo que é factualmente falso?”, questionou.
O também professor do Instituto Universitário Europeu de Florença apontou o atual Governo como “perito” em desenhar políticas “que são igualmente austeritárias mas não são tão sentidas assim pelas pessoas”, dando como exemplo a opção pelo aumento de impostos indiretos em vez dos diretos.
“É a forma que o dr. António Costa encontrou de fazer austeridade sem parecer que está a fazer austeridade”, disse.
O ex-ministro referiu-se ainda ao crescimento económico português (2,9% no segundo trimestre em termos homólogos), classificando-o como “modesto” e não como “um sucesso” como tem sido apresentado, defendendo que a comparação deve ser com outros países que passaram pelo processo de ajustamento e não com o período antes da ‘troika’.
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