O ‘cartoon’ que gerou a polémica é da autoria de Cristina Sampaio, colaboradora do coletivo Spam Cartoon, que tem uma rubrica semanal na RTP, e chama-se “Carreira de tiro”. Mostra um polícia a atirar ao alvo com cada vez mais intensidade. No final, mostra os alvos, que foram escurecendo à medida da agressividade do polícia, servindo de metáfora ao tema do racismo nas forças de segurança.

O cartoon pode ser visto aqui.

No sábado, o Sindicato Nacional da Carreira de Chefes (SNCC) da PSP anunciou que apresentou uma queixa-crime contra os autores do ‘cartoon’ e também contra a RTP por tê-lo emitido, considerando que “há, inequivocamente, uma intenção de vilipendiar todos os polícias, retratando-os como xenófobos e racistas”.

Contactado pela Lusa, o ilustrador André Carrilho, cofundador, juntamente com João Paulo Cotrim, do Spam Cartoon - responsável pelo 'cartoon' em questão -, considerou que a queixa “não faz sentido”, uma vez que o 'cartoon' "não tem nada a ver com a PSP nem com a realidade portuguesa".

“Nós trabalhamos para a RTP desde 2017 e o 'cartoon' é sempre feito num contexto de atualidade nacional e internacional, neste caso é internacional. Tem a ver com a ocorrência em França, da morte de um jovem francês às mãos da polícia que depois deu origem a vários tumultos pelo país inteiro”, explicou André Carrilho.

Por sua vez, fonte oficial da RTP disse à Lusa que “o Spam Cartoon é um exercício de opinião livre sobre a atualidade nacional e internacional que a RTP acolhe desde 2017”, sendo da autoria de “alguns dos mais reconhecidos cartoonistas portugueses”.

“Em nenhuma circunstância serviu para instigar à violência contra quem quer que seja. Os valores da liberdade de expressão e de opinião são basilares da democracia e do serviço público da RTP”, salientou o canal de televisão.

Também no sábado, o PSD questionou o Conselho de Administração da RTP sobre o mesmo ‘cartoon’, considerando que “atenta de forma evidente e infeliz contra a imagem e o bom nome” das instituições policiais.

No domingo, o presidente do CDS-PP criticou o ministro da Administração Interna por não ter defendido a honra das forças policiais após a transmissão do ‘cartoon’.

Esta segunda-feira, o Chega anunciou a proposta de  audição no parlamento do conselho de administração da RTP e da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) na sequência da transmissão pelo canal público do referido ‘cartoon’.

De acordo com um requerimento divulgado hoje pelo partido, e endereçado à Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, o Chega quer ouvir também o Conselho Geral Independente da RTP e requer que estas audições se realizem com caráter de urgência.

O Chega considera que esta é uma “insinuação de que a polícia é racista” e tem “o claro intuito de difamar e incitar ao ódio contra os polícias”.

“Tendo em conta que a RTP é a televisão pública, a televisão de todos os portugueses, o caso torna-se ainda mais grave, sendo imperativo apurar responsabilidades pela emissão do ‘cartoon’”, defende.