As primeiras notícias avançavam que Bertolucci e Marlon Brando teriam combinado a cena de violação de “O Último Tango em Paris” sem avisar Maria Schneider. Agora, o realizador vem a público dizer que a atriz só não foi informada sobre o pormenor do uso de manteiga nesta cena. Brando tinha 48 anos quando fez este filme, Schneider tinha 19.

“Há vários anos, na Cinemateca Francesa, alguém me pediu detalhes sobre a famosa cena da manteiga. Eu especifiquei, mas talvez não tenha sido claro, que eu decidi com Marlon Brando não informar Maria sobre o uso de manteiga. Nós queríamos que ela tivesse uma reação espontânea ao uso impróprio [da manteiga]. É aí que está o mal-entendido. Alguém pensou, e pensa, que Maria não foi informada sobre a violência a que iria ser sujeita. Isso é falso”, disse, citado pela Variety.

“Maria sabia tudo porque tinha lido o guião onde estava descrita [a cena]. A única novidade foi a ideia da manteiga. E isso, como vim a saber muitos anos mais tarde, ofendeu Maria. Não a violência a que foi sujeita na cena, e que estava escrita no guião”, acrescentou.

A polémica não é de hoje. Em 2007, Maria Schneider, então com 55 anos, disse em entrevista ao Daily Mail que “essa cena [da violação] não estava no guião original. A verdade é que a ideia foi de Marlon. Disseram-me momentos antes de termos de gravar, fiquei tão zangada. Devia ter chamado o meu agente ou o meu advogado porque não se pode forçar alguém a fazer algo que não estava no guião, mas naquele tempo eu não sabia disso. Marlon disse-me: ‘Maria, não te preocupes, e apenas um filme’, mas durante a cena, mesmo sabendo que o que ele estava a fazer não era real, as minhas lágrimas era reais. Senti-me humilhada e, honestamente, um pouco violada, por Marlon e Bertolucci. Depois da cena, Marlon não me consolou ou pediu desculpas. Felizmente, foi uma cena com apenas um take”.

Maria Schneider faleceu em 2011, com 58 anos, vítima de cancro.

Agora, o caso ressurgiu com a divulgação de uma entrevista a Bertolucci, em 2013, na Cinemateca Francesa, em que este admite “que foi horrível para Maria” e adianta que não revelou à atriz todos os detalhes da cena.

Nesta entrevista, Bertolucci diz: “não disse a Maria o que ia suceder porque queria a sua reação como mulher e não como atriz. Creio que ela me odiava, a mim e a Marlon, porque não lhe contámos que havia este detalhe sobre a manteiga usada como lubrificante. Sinto-me culpado por isso”, disse.

“Arrepende-se de ter feito a cena desta forma?”, perguntaram a Bertolucci, que respondeu: não, mas sinto-me culpado. (…) para fazer filmes, por vezes, para obter algo, temos de ser livres. Não queria que Maria que fingisse a sua humilhação, a sua raiva, queria que ela sentisse”.

Os relatos de Bertolucci e de Maria Schneider diferem. Enquanto a atriz disse que não sabia da cena, Bertolucci garante que esta estava informada de tudo exceto do uso de manteiga.

A polémica fez com que muitos atores de Hollywood viessem a público condenar Marlon Brando e Bertolucci, como Chris Evans, Jessica Chastain, Michael Cudlitz, Howard Dean e Bryan Greenberg.

“Para as pessoas que amam este filme, estão a olhar para uma miúda de 19 anos a ser violada por um homem de 48. O realizador planeou o ataque”, escreveu Chastain no Twitter.

Na mesma rede social. Chris Evans garantiu que nunca mais irá ver este filme, Bertolucci ou Brando "da mesma forma”.

Cudlitz escreveu no Twitter: há um lugar especial no inferno para os dois sacanas e todos aqueles na equipa que viram e não fizeram nada”.

Howard Dean, por sua vez, disse “não estar surpreendido com Brando ou Bertolucci”.

“Ok, nunca mais vou ver ‘O último tango em Paris’”, escreveu na mesma rede social Bryan Greenberg.

Miko Brando saiu em defesa do seu pai, Marlon Brando, que morreu em 2004. "Esse não é o meu pai, ele não era esse homem. Ela era pelos direitos humanos, pelos direitos civis", disse ao TMZ. "Não é verdade, não é verdade", disse. Bertolucci "fala por si mesmo", [o meu pai] ficaria enojado, completamente enojado.