Num primeiro balanço feito pela agência Lusa junto de autoridades e instituições locais, ao registo de mortos e feridos (cerca de 70, mais de uma dezena dos quais graves) junta-se a destruição de mais de 800 casas (mais de um terço das quais primeiras habitações), dezenas de empresas e explorações agropecuárias e uma grande área de floresta, deixando em risco milhares de postos de trabalho e o suporte económico de muitos dos concelhos afetados, além das falhas em serviços essenciais, como energia, água e comunicações.

Distrito de Coimbra

  • Oliveira do Hospital – Num primeiro levantamento, foram identificadas mais de 200 casas destruídas, mais de metade das quais de primeira habitação. Milhares de animais foram mortos, nomeadamente 5.000 aves e 3.000 ovelhas, com impacto na economia local, em particular na produção do queijo Serra da Estrela.
  • Penacova – Houve danos em 28 habitações permanentes e numa dezena de empresas, além dos 6.000 hectares de floresta ardida. Está ainda em curso o levantamento de segundas habitações e infraestruturas, como armazéns e equipamentos agrícolas, atingidas, bem como de animais perdidos.
  • Arganil – O concelho perdeu 92% da floresta nos incêndios de domingo e da semana anterior (arderam 25.000 dos 27.000 hectares de floresta), o que equivale a três quartos da área total do concelho (33.000 hectares). Perto de meia centena de casas de primeira habitação e “muitas segundas habitações” foram atingidas, “muitas cabeças de gado” perdidas e falta pasto para os animais que escaparam. Há “várias empresas muito prejudicadas” pela destruição de equipamentos e maquinaria.
  • Tábua – Foram destruídas 54 casas de primeira habitação, número que dispara "para as centenas" se forem contabilizadas segundas habitações, casas desocupadas, anexos e barracões. Um jardim-de-infância, uma capela e três palácios situados na freguesia de Midões foram destruídos e arderam algumas zonas de percursos pedestres. A Resimadeiras, exploração florestal vocacionada para as exportações, terá tido "um prejuízo de dois milhões de euros" e há outras empresas de pequena dimensão também afetadas, bem como vários produtores agrícolas. Centenas de cabeças de gado bovino, ovino e caprino morreram, registando-se ainda a destruição de muitas máquinas agrícolas, tratores, alfaias agrícolas e arrecadações.
  • Pampilhosa da Serra – Foram destruídas 262 habitações e cerca de outras 500 foram atingidas, tendo 20 pessoas ficado desalojadas. Arderam cerca de 20.000 hectares de floresta e terras, o que significa que este ano, nos três grandes incêndios que lavraram no concelho (com cerca de 40 mil hectares de área), foram atingidos 32 mil hectares. Os prejuízos provocados nas empresas, designadamente do setor do turismo, são “elevados”.
  • Vila Nova de Poiares - O concelho terá perdido cerca de 70% do seu território nos três incêndios ocorridos este, tendo no fogo de domingo, “o maior”, sido destruídas “algumas dezenas de habitações”. Perderam-se também muitas explorações agrícolas e alfaias.
  • Figueira da Foz – A maioria dos 3.130 hectares de floresta ardida nos incêndios de Quiaios (que se estendeu depois a Cantanhede e Mira) e de Paião pertenciam à Mata Nacional de Quiaios, que ficou reduzida a metade. Foi atingida a zona "mais usufruída pelas pessoas", na faixa central e leste da mata, junto às lagoas das Braças e Vela, uma casa ficou sem telhado e uma autocaravana e uma casa prefabricada em madeira arderam. Na envolvente das lagoas desapareceram nenúfares e outras plantas aquáticas das margens e foram destruídos equipamentos de apoio, sendo “enorme” a perda de biodiversidade numa zona incluída na Rede Natura 2000.
  • Mira – As “dezenas de frentes” de fogo que assolaram 70% dos 120 quilómetros quadrados do concelho, “densamente florestados”, afetaram zonas urbanas, com a perda de “imenso património”, entre o qual primeiras habitações e casas devolutas, deixando 12 famílias desalojadas. As chamas chegaram ao polo I da Zona Industrial de Mira, afetando empresas como a Tecplasnova (com materiais altamente combustíveis) ou a SIRO, uma das maiores empregadoras do concelho, e destruindo por completo várias outras, o que põe em causa quase 200 postos de trabalho.
  • Lousã – O fogo consumiu mais de 5.000 hectares de floresta, além de ter destruído várias casas de habitação permanente, unidades industriais, várias explorações agrícolas e viaturas e antigos imóveis, como a desativada fábrica de papel do Boque, na freguesia de Serpins, classificada como Imóvel de Interesse Municipal. Nesta freguesia, ficou destruída uma exploração de caprinicultura com 250 cabras.

Distrito de Viseu

  • Vouzela – Oitenta a noventa por cento do concelho “foi arrasado” pelas chamas, que destruíram casas de primeira habitação, deixando “pelo menos 20 famílias desalojadas” e destruindo “centenas de postos de trabalho”. Foi referenciada a destruição de dependências, aviários, explorações agrícolas, serralharias, carpintarias, uma empresa de obras públicas, tratores, carros e muitos animais mortos.
  • Santa Comba Dão – Foram destruídas 15 primeiras habitações e mais de 50 casas devolutas ou segundas habitações e “sete ou oito empresas de pequena dimensão” na cidade, tendo muitas outras, e a própria Câmara Municipal, perdido maquinaria. No “maior incêndio de sempre” no concelho, 80% da mancha florestal foi consumida.
  • Tondela – O fogo chegou à Zona Industrial da Adiça, onde destruiu a unidade da Valouro, que empregava 47 pessoas e teve num prejuízo entre 3,5 e 4 milhões de euros, e a Tratris, empresa de tratamento de resíduos industriais, com uma dúzia de trabalhadores, estimando-se entre 80 e 85 os postos de trabalho afetados. Mais de 120 casas foram destruídas (35 a 40 de primeira habitação) e 45 pessoas ficaram desalojadas (das quais 14 ainda estão em instituições particulares de solidariedade social ou em pensões), estando em causa um total de 32 famílias, maioritariamente de idosos. Arderam ainda “mais de 100 viaturas” e registaram-se prejuízos “assinaláveis” em explorações agropecuárias, que enfrentam agora dificuldades em alimentar os animais.
  • Nelas – Dos 12.500 hectares de área total do concelho, 38,5% arderam, tendo as chamas consumido 4.800 dos 7.682 hectares de área florestal (62,5%) e ainda 40 dos 1.500 hectares de vinha. Dos 24 prédios urbanos afetados, seis eram primeiras habitações e 18 casas devolutas, tendo ficado dez pessoas desalojadas. Há mais de 50 animais de médio porte e 200 de pequeno porte mortos, além de várias colmeias de abelhas.
  • Carregal do Sal – O concelho viu desaparecer 70% a 80% da mancha florestal. Arderam cerca de 10 casas, duas delas de primeira habitação, além de barracões, tratores e alfaias agrícolas.
  • Oliveira de Frades – Mais de 500 postos de trabalho ficaram em risco, já que o fogo danificou ou destruiu totalmente várias empresas situadas na Zona Industrial.
  • Mortágua - Centenas de postos de trabalho foram perdidos e várias casas consumidas, tendo desaparecido “uma grande mancha florestal”. A Central de Aproveitamento Energético de Biomassa Florestal Residual foi afetada e a empresa Pellets Power ardeu na totalidade, pondo em causa, além dos 20 a 30 postos de trabalho diretos, mais de 300 postos de trabalho indiretos. Houve danos numa fábrica de cimento cola e noutra de mármores e numa oficina.

Distrito da Guarda

  • Gouveia – Com 11 das 16 freguesias atingidas, calcula-se que as chamas destruíram "mais de mil hectares de área" do concelho, situando-se "a larga maioria" no perímetro do Parque Natural da Serra da Estrela. Uma farmácia e muitas empresas, industriais e comerciais, foram afetadas.
  • Seia – Setenta e sete casas de primeira e segunda habitação ficaram destruídas, tendo ardido cerca de 60% da área florestal do concelho. Há prejuízos a rondar os três milhões de euros nas empresas afetadas pelas chamas, sem contar com as firmas ligadas à área da agricultura e das florestas.

No distrito, as chamas obrigaram ainda à evacuação de várias povoações nos concelhos da Guarda, Sabugal e Fornos de Algodres.

Distrito de Leiria

  • Marinha Grande – Cerca de 80% do Pinhal do Rei/Mata Nacional de Leiria desapareceu no incêndio de domingo e segunda-feira, que queimou 8.000 hectares dos cerca de 11.000 daquele que é conhecido como o Pinhal de Leiria e cuja origem remonta ao século XIII. A empresa Vincarte, com oito trabalhadores, ardeu na totalidade e a Bollinghaus Steel foi afetada, tendo havido ainda danos em duas empresas na freguesia de Vieira de Leiria, onde seis famílias ficaram desalojadas e uma dezena de casas destruídas.
  • Alcobaça - Foram consumidos perto de 3.000 hectares de pinhal e arderam dez casas de segunda habitação, receando-se os impactos no turismo, dado que desapareceu a floresta junto à orla marítima, afetando todas as praias no norte do concelho. Os serviços municipalizados apelaram às populações para não beberem água da rede pública devido às cinzas arrastadas pelas chuvas.
  • Pombal – Desapareceu grande parte da Mata Nacional do Urso (no prolongamento do Pinhal de Leiria) num concelho em que arderam 5.000 a 6.000 mil hectares de floresta pública e privada.
  • Óbidos – Arderam 50 hectares de floresta, uma casa devoluta e várias estufas hortícolas, tendo dois bombeiros sofrido ferimentos ligeiros.

Distrito de Castelo Branco

  • Sertã – Desapareceram 7.000 hectares de floresta, num concelho que tem no setor madeireiro o seu motor económico. Oito casas de primeira habitação arderam total ou parcialmente, sete pessoas ficaram desalojadas e três viaturas dos bombeiros, arrecadações e palheiros foram destruídos pelas chamas, que mataram ainda muitos animais.
  • Oleiros – Os incêndios queimaram 15.000 hectares de floresta e destruíram 70 casas, 20 delas de primeira habitação, e um lagar de azeite, havendo ainda muitos animais mortos.

Distrito de Aveiro

  • Aveiro – O concelho junta à “perda total” do centro logístico da Moviflor, na Zona Industrial do Mamodeiro, e de outras “pequenas perdas” em várias empresas, nomeadamente ligadas ao setor agropecuário, uma área ardida “brutal” de espaços florestais e de culturas.
  • Castelo de Paiva - Cerca de 80% da floresta do concelho ardeu e 14 famílias, cujas casas foram consumidas pelas chamas, ficaram desalojadas. O fogo destruiu ainda várias empresas e explorações agrícolas responsáveis por cerca de 200 postos de trabalho.
  • Vagos – A Câmara criou cinco grupos de trabalho para fazer "o levantamento e tratamento de todas as situações de risco existentes", estando já a funcionar o Gabinete de Apoio ao Lesado, criado para recolher informação sobre os prejuízos provocados pelos incêndios.

Os incêndios afetaram ainda o abastecimento de água e de energia elétrica em dezenas de localidades e obrigaram ao corte de autoestradas, itinerários principais e complementares, estradas nacionais e municipais, bem como das linhas férreas do Norte e da Beira Alta.

Segundo o Centro de Investigação Comum da Comissão Europeia, 519.748 hectares de floresta foram queimados pelos incêndios deste ano em Portugal, mais de metade na primeira quinzena de outubro.