Segundo a cadeia de televisão britânica BBC, que emitiu uma reportagem sobre o assunto, Luana Gomes foi tratada e curada dos efeitos do gás extremamente tóxico libertado da estrutura do edifício durante o incêndio que, a 14 de junho, deflagrou no quarto de 24 andares e que causou 79 mortos.

A mãe, Andreia, e a irmã, Megan, também foram alvo de tratamento, mas apenas pelo "risco" de envenenamento por cianeto. Grávida de sete meses, Andreia acabaria por perder o bebé dias após o incêndio.

A família Gomes residia no 21.º piso.

Antes, a imprensa londrina reportou que três sobreviventes do incêndio foram tratados com um antídoto contra o cianeto, mas o caso de Luana é o primeiro a ser confirmado com o diagnóstico de envenenamento pelo gás tóxico.

Andreia Gomes e as duas filhas, Luana e Megan, foram colocadas em coma induzido assim que deram entrada no Kings College Hospital, em Londres. Andreia esteve inconsciente durante quatro dias, Luana seis e Megan sete.

O relatório da alta hospitalar de Luana, segundo a BBC, indica que a jovem foi diagnosticada com "ferimentos por inalação de fumo" e por "envenenamento por cianeto", tendo sido tratada com duas doses de hidroxicobalamina.

No entanto, apesar de as três terem sido tratadas com um antídoto contra o cianeto, apenas Luana foi diagnosticada com envenenamento.

A BBC salientou que o envenenamento por cianeto é "relativamente comum" em incêndios residenciais, uma vez que é utilizado na produção de muitos plásticos que ornamentam os edifícios, libertando um gás tóxico quando ardem.

"Parece dramático, porque o cianeto é conhecido na cultura popular como uma arma de envenenamento", salientou a BBC na reportagem.

Os sintomas do envenenamento por cianeto incluem dores de cabeça, tonturas, confusão mental, vómitos e convulsões. Em grandes concentrações, o gás provoca uma morte rápida.

"Os efeitos são verdadeiramente rápidos. Pode-se morrer em segundos, dependendo do grau de exposição. Quando normalmente se respira oxigénio, as células produzem energia. O cianeto bloqueia a capacidade de produzir energia a partir do oxigénio", afirmou à BBC o toxicologista britânico Johann Grundlingh.

Segundo a cadeia de televisão britânica, Andreia Gomes tem manifestado uma profunda indignação contra quem é responsável por decidir construir a Torre Grenfell com materiais baratos, em vez que serem usados materiais que retardem a disseminação do fogo.

"Mataram o meu filho. Eu podia ter morrido. A gravidez estava nos sete meses e a correr normalmente. Ele podia ter sobrevivido. Mas, devido às condições do edifício, acabou por falecer", disse.

O marido, Márcio Gomes, disse por seu lado à BBC que, assim que se apercebeu do fogo, decidiu fugir com a família cerca de 04:00, quando as chamas começaram a atingir o apartamento do 21.º andar.

Mário Gomes descreveu como ele e a sua família tiveram de saltar por cima de corpos à medida que tentavam descer as escadas do edifício, totalmente cheias de fumo.

"O que não contava era com a quantidade de corpos por cima dos quais tivemos de saltar ou mesmo pisar. Estávamos a pisar pernas e braços de pessoas", concluiu.