Sem condenar explicitamente as declarações do líder nacionalista húngaro Viktor Orban, que suscitaram a indignação, em particular, de Washington, Ursula Von der Leyen recordou numa entrevista publicada no site de notícias eslovaco aktuality.sk, referindo que “todos os Estados-membros da UE, incluindo a Hungria, subscreveram valores comuns” universais que são “não negociáveis”.

E prosseguiu: “Discriminar com base na raça é atropelar esses valores” consagrados nos tratados europeus e internacionais.

“A União Europeia é fundada na igualdade, tolerância, equidade e justiça”, acrescentou a líder europeia.

A Comissão Europeia não reagiu publicamente, até agora, às declarações de Viktor Orban.

Na terça-feira, um porta-voz da Comissão Europeia questionado pelos média disse que a Comissão “nunca comentou as observações feitas pelos líderes políticos europeus”.

As palavras do líder húngaro provocaram a demissão de um de seus assessores, que denunciou tratar-se de um “texto nazi puro”, a reprovação do Chanceler da Áustria, Karl Nehammer, e mereceram uma condenação do Comité Internacional de Auschwitz, “horrorizado” com o discurso.

Os presidentes dos principais grupos políticos do Parlamento Europeu, numa declaração adotada na noite de sexta-feira, “condenaram veementemente as declarações abertamente racistas” do primeiro-ministro húngaro e exortaram “a Comissão e o Conselho – em representação dos Estados-Membros – a condenarem urgentemente as declarações, em termos veementes”

Num discurso realizado a 23 de julho deste ano, Viktor Orban rejeitou a visão de uma sociedade “multiétnica”.

“Não queremos ser mestiços ao misturarmo-nos com não-europeus”, declarou o líder nacionalista e ultraconservador, cuja política anti-imigrantes foi condenada por diversas vezes pela justiça europeia.

Na quarta-feira, sem citar Orban, o vice-presidente do executivo europeu Frans Timmermans reagiu na rede social Twitter, criticando o racismo, “uma invenção política tóxica” que “não deveria ter lugar na Europa”.

A Hungria de Orban está na mira de Bruxelas devido a uma recente lei anti-LGBT e há vários anos por deficiências no Estado de Direito, nomeadamente, ataques à independência judicial e ao pluralismo dos média e a luta insuficiente contra a corrupção.

Estes problemas, ligados à corrupção e às condições com que são adjudicados os contratos públicos no país, levaram Bruxelas, nomeadamente, a bloquear até agora a aprovação do plano de recuperação pós-covid de Budapeste, no montante de 5,8 mil milhões de euros em subsídios.