Os últimos instantes antes das 20h00 em Paris (menos uma hora em Lisboa) foram de suspense. Fecharam as urnas em França. A esta hora (21h00 em Lisboa) os números do Ministério do Interior francês apontam para a vitória de Emmanuel Macron, com 61,7% dos votos dos votos contados a serem a seu favor. Marine Le Pen ficou em segundo lugar, reunindo apenas 38,3% dos votos contados até esta hora. A contagem oficial segue para confirmar os resultados das projeções e o nome do próximo presidente da Cinquème République.

Depois de uma primeira volta em que os franceses barraram o caminho ao Eliseu (residência oficial do presidente francês) aos partidos tradicionais — Partido Socialista e Republicanos — e optaram pelo independente apoiado por quase todos os políticos em França, e no mundo, e pela candidata da extrema-direita Marine Le Pen, as expetativas e os nervos em torno dos resultados desta noite estavam em alta.

Só 75,9% dos eleitores foi às urnas, diz o palácio Beauvau, sede do ministério do Interior, chefiado por Matthias Fekl. Para além disso, 9,4% dos boletins expressos são votos em branco ou nulos.

A participação nesta segunda volta chegava, a meio da tarde, aos 65,5%; são menos quatro pontos percentuais que à mesma hora da primeira volta, a 23 de abril. Os dados do Ministério do Interior francês mostram ainda que a participação ficou abaixo da segunda volta de 2012, que, às 17h00, registava uma participação de 70,59%. Estes são os valores mais baixos desde 1969.

Durante a tarde, notícias foram dando conta de vários meios de comunicação franceses e internacionais, ligados à esquerda, a terem visto a entrada na sede da campanha de Le Pen ser-lhes impedida. No Twitter, um dirigente do Front National diz que o partido dá “prioridade aos [seus] militantes e não aos do sr. Macron”. Os seguranças do espaço alegam a falta de espaço para o impedimento.

Em solidariedade, outros jornais, como ‘Le Monde’, ‘Libération’ ou ‘Humanité’ e até a agência Bloomberg vieram já dizer que vão recusar participar na cobertura da noite eleitoral de Marine Le Pen.

"A agência Bloomberg boicota também a noite eleitoral da Frente Nacional por causa da recusa de acreditar pelo menos 15 jornalistas", escreve no Twitter um jornalista da AFP, citando Geraldine Amiel, chefe de gabinete da Bloomberg em Paris. A jornalista diz que a Bloomberg "acredita em media livres".

A primeira missão oficial do novo presidente-eleito francês é já amanhã. Esta segunda-feira (8) é assinalado o fim da Segunda Guerra Mundial e François Hollande deverá ter Macron ao lado para, por volta das 10h30 da manhã, deixar uma coroa de flores junto da estátua do general e antigo presidente Charles de Gaulle.

Aos 39 anos, Emmanuel Macron é o mais jovem dos 25 presidentes de La République, ultrapassando Louis Napóleon-Bonaparte, que tinha 40 anos em 1848. O jovem presidente-eleito, que saiu do governo de Valls para formar o seu movimento independente “nem de esquerda nem de direita”, enfrenta agora a necessidade de conseguir apoio parlamentar nas eleições legislativas deste verão.

As felicitações caíram quase todas ao mesmo tempo. De Downing Street (Londres) ao coração da União Europeia, personagens políticas de todo o lado, que passaram as últimas semanas a apelar ao voto no candidato liberal, foram mostrando o seu alívio: o sistema mantém-se tal qual estava ontem, isto é, nada de imprevisto vai governar França.

E conseguir governar França será realmente o desafio de Macron. Não falamos do facto de nunca ter sido eleito para qualquer cargo público, tampouco da idade. O problema de Macron será conseguir um parlamento que lhe seja favorável à aplicação do seu programa. Um cenário sem maioria do seu movimento pode fazer com que algumas das suas medidas sejam barradas.

Marine Le Pen, que conquistou cerca de onze milhões de votos (quatro milhões a mais que na primeira volta destas presidenciais), vai bem encaminhada para reforçar a presença no parlamento gaulês.

A escolha dos franceses, denunciou Le Pen, foi pela continuidade. Macron, ex-ministro da Economia do governo de Manuel Valls na era Hollande, o mais impopular dos presidentes, propõe reformas na segurança, economia, educação e administração.

A economia que o ex-banqueiro propõe é liberal, mais liberal que aquilo a que os franceses estavam habituados nos últimos anos. 120 mil funcionários públicos deverão ser dispensados e o Estado vai cortar 60 mil milhões de euros em gastos. O cinto aperta para la République, mas alivia para as empresas, que devem ver os impostos diminuídos, e para os mais ricos, que terão uma reforma no polémico imposto sobre o património — com que Macron também chegou a ter problemas no passado —, que vai passar a incidir apenas sobre os bens imobiliários.

No discurso que fez no início desta noite — já depois de Le Pen lhe reconhecer a vitória — falou de “uma grande honra e uma imensa responsabilidade” que agora lhe cabem. Falou, disse, para todos os franceses, mesmo para os que não votaram nele.

Não esqueceu o cumprimento à adversária, cujo partido conquistou resultados históricos, apresentando-se, agora, como a força partidária com mais representação em França. Força que mostra a “fúria, ansiedade e dúvida”, que Macron vê nos franceses. Mas para a segurança do povo, o agora presidente-eleito promete ser “implacável” na sua defesa.

Agora, diz também na mensagem, a principal tarefa é a de “acalmar os medos das pessoas, restaurar a confiança de França e reunir o seu povo para enfrentar os gigantescos desafios que se nos colocam no futuro”.

O primeiro desafio é já este verão com as legislativas onde o En Marche! tem de garantir segurança ao seu líder. Será com o apoio - ou não - dos franceses que vamos perceber se Macron foi efetivamente o escolhido, ou se, por outro lado, esta história é apenas a de Marine Le Pen a não ser presidente.