Nesta cidade, que está há vários meses nas imediações da linha de frente dos combates, um bloco de prédios de habitação com cinco andares foi atingido por um ataque, durante a madrugada de hoje.

De manhã, as chamas ainda eram visíveis no bairro, onde os bombeiros procuravam encontrar corpos no meio dos destroços fumegantes.

“Ouvi um som, como um trovão. Havia muitos vidros partidos”, disse um homem de 78 anos, que pediu anonimato, que mora no bloco de prédios atingido.

“Deixei de ter janelas ou portas. Está tudo destruído. Há pessoas debaixo dos escombros. E eu estou vivo”, surpreende-se, explicando que a porta da frente estava bloqueada e que teve de ser resgatado pelos bombeiros.

Questionado sobre a frequência desse tipo de ataques, Valeri, de 62 anos, que não quis revelar o apelido, garante que acontece todos os dias, na maioria das vezes durante a noite, atribuindo-os exclusivamente às forças russas.

Mas em Bakhmut nem todos têm a certeza de Valeri.

“É evidente, vem dos ucranianos”, garante uma habitante da cidade, apontando para a direção em que estão localizadas as posições da artilharia comandada por Kiev

Na região de Donbass, alguns habitantes permanecem favoráveis ao Governo de Moscovo.

Segundo a Presidência ucraniana, na região de Donetsk – uma das duas províncias que constituem o Donbass – os ataques russos atingiram Bakhmut nas últimas 24 horas, mas também várias outras localidades, incluindo Toretsk, Mykolaivka, Avdiivka, Krasnogorivka, Myrnograd e Chassiv Iar.

No centro de Bakhmut, alguns transeuntes dirigem-se até à única loja de conveniência que ainda permanece aberta, para comprar pão, latas de comida ou pilhas elétricas.

O comerciante colocou uma mesa na entrada para vender os seus produtos, já que a loja está mergulhada na escuridão, por falta de eletricidade.

As pessoas da cidade parecem não prestar atenção ao som das balas que assobiam à passagem, ou às explosões ensurdecedoras nas proximidades.

Na ausência de água corrente, as pessoas enchem latas nos fontenários.

Privados de eletricidade, aproveitam geradores para recarregar os telemóveis, tirando proveito de a rede telefónica ainda funcionar em alguns lugares.

Valentin Zagoudailo, 77 anos, vende leite em frente à loja de conveniência, sentado num banco.

O ex-oficial das forças especiais do Exército soviético, que diz ter lutado em Cuba e no Vietname, tem 35 vacas na sua quinta, numa aldeia próxima, de onde se desloca diariamente para vender leite em Bakhmut.

“A missão das autoridades ucranianas é destruir a cidade, para que não haja mais habitantes”, diz Zagoudailo, embora reconheça que preferia ver os russos afastados da região.

Muito perto, num outro banco, uma senhora idosa chora e lamenta-se em voz alta, enquanto as granadas continuam a cair, não muito longe do centro.