O projeto é da iniciativa da Regressar a Si – Associação de Apoio a Toxicodependentes e Alcoólicos, criada em 2021 e que tem concentrado esforços na criação desta comunidade.

“O que acontece aqui na Madeira é que nós temos a fase de desintoxicação bem feita. Não temos é a fase posterior que se segue, que é o tratamento propriamente dito, que consiste na reabilitação biopsicossocial da pessoa”, explica à agência Lusa a presidente da associação, Rubina Sequeira.

A criação da comunidade terapêutica na região, comparticipada pelo Governo da Madeira e pela Câmara Municipal do Funchal, visa responder ao “nicho de pessoas que, querendo fazer o tratamento, não tem possibilidade financeira”.

“Nós temos pessoas com algum suporte financeiro que conseguem sair da região e ir fazer o tratamento lá fora […], mas como é um tratamento muito caro, à volta dos 3.000 euros por mês o mais barato, a maior parte das pessoas efetivamente não consegue suportar estes custos”, aponta a responsável.

Entendendo “a toxicodependência como um sintoma de um problema e não o problema em si”, a comunidade terapêutica “serve precisamente para que uma equipa multidisciplinar, num ambiente protegido, no fundo uma mini sociedade, possa reabilitar a pessoa”.

“Isto baseia-se essencialmente em psicoterapia. Eles têm terapia intensiva, individual, de grupo, têm trabalhos que são inspirados no programa dos 12 passos e a maior do tempo é dedicado a isto. No restante tempo têm atividades desportivas, criativas, ‘yoga’, a limpeza do espaço e alguns deles poderão até ajudar na cozinha”, salienta.

A presidente da associação Regressar a Si acrescenta que será criada uma parceria para que os utentes recebam formação na área da agricultura biológica.

“É um tratamento que não se baseia só na psicoterapia, no tratamento do trauma, na causa que leva à audição, mas que os orienta também para o futuro, para esta componente de reintegração social muito marcada”, frisa.

A associação aponta para 30 camas, apesar de ainda não conseguir precisar um número concreto. A duração do tratamento depende de cada utente, mas não será menos de seis meses, assegura Rubina Sequeira.

A comunidade terapêutica será constituída por cerca de 15 profissionais, entre os quais psicólogos, assistentes sociais, médicos, enfermeiros, cozinheiros e monitores.

O objetivo, refere a presidente da associação, é que no futuro sejam os utentes que terminaram o tratamento a fazer o acompanhamento de quem está a ser tratado.

Segundo a Regressar a Si, as instalações previstas para acolher a comunidade, no antigo Centro Educativo da Madeira, estão a ser negociadas entre a Secretaria Regional da Cidadania e Inclusão Social e o Ministério da Justiça, proprietário do espaço.

Questionada pela Lusa, a Secretaria Regional da Cidadania e Inclusão Social indicou que manifestou junto da secretária de Estado da Administração Interna a intenção de utilizar aquele espaço para fazer a comunidade terapêutica, que fez a articulação com o Ministério da Justiça, estando a aguardar uma resposta.