Com sede em Vila Nova de Gaia, no distrito do Porto, a empresa liderada por Eduardo Nunes “nasceu de uma inspiração”, dos desafios que a pandemia da covid-19 despertou nas escolas portuguesas, e de “muita vontade” de revolucionar a forma como as crianças e os jovens aprendem.

“Há anos que se fala em revolucionar os processos de aprendizagem porque atualmente são processos muito passivos para o aluno e muito pouco motivadores, processos sobretudo de memorização e de repetição”, disse o criador da “Kendir” – palavra nórdica que significa “jogar a fazer” ou “jogar a brincar”.

A ideia começou num projeto de investigação e materializou-se já em mais de uma dezena e jogos, sendo seis dedicados à matemática e seis às ciências naturais.

Todos já estão a ser comercializados e, em conclusão, a Kendir tem um jogo de música e outro de artes que disponibilizará de forma gratuita.

À Lusa, Eduardo Nunes, que “sempre jogou muito e gosta de desenhar jogos”, percebeu com a pandemia que os alunos portugueses precisavam de “processo mais interativos, mais dinâmicos, mais imersivos para complementar as atividade quase sempre só baseadas em manuais”.

“Há várias décadas que se sabe que estes processos passivos de aprendizagem originam perdas de aprendizagem. Já se concluiu que nas férias de verão os alunos perdem cerca de 70% do conhecimento que foi adquirido no ano anterior”, justificou.

Então imagine-se um cenário em que os miúdos aprendem sobre números primos.

Tradicionalmente o professor explica a diferença entre um número primo e um não primo na sala de aula, através do quadro, do manual ou de apresentações digitais e, depois, dá exemplos e começa a colocar questões.

A partir daí, o aluno tem trabalho de casa, vai ver o manual e a ficha e vai tentar responder a questões abertas, de escolha múltipla ou a um problema. Entrega a ficha e recebe uma pontuação.

Com as soluções da Kendir Studios é tudo diferente, mas o professor “tem sempre um papel” porque “o processo nunca é 100% autónomo”, salvaguardou Eduardo Nunes, exemplificando com um dos jogos da empresa.

“O professor faz exatamente a mesma explicação e a partir daí se tiver um jogo educativo na sala de aula, pode criar equipas ou usar o jogo de forma individual. O aluno para atravessar uma ponte só pode passar por cima de placas que tenham número primo. Aplica o conhecimento nesse sentido. Sempre que não tem um número primo, cai e volta ao início. Tem 'feedback' instantâneo, pode reagir de imediato e o professor consegue perceber de imediato se o aluno está com dificuldades nos cálculos ou não, pode intervir e explicar novamente”, descreveu.

Já quando usado em casa, o jogo dá ao professor ‘feedback’ em tempo real, podendo este ver se o aluno terminou a tarefa que lhe foi confiada, entre outras funcionalidades.

“Com o jogo as imagens são em 3D [enquanto as imagens dos manuais são em 2D]. A tridimensionalidade ajuda o aluno a ter uma compreensão maior e permite interação”, apontou.

A empresa conta com 15 trabalhadores, desde programadores, a ilustradores e designers, pessoal administrativo, escritores, produção de áudio e de 3D.

Soma-se, indiretamente, a colaboração de cerca de 40 especialistas e investigadores que dão validação e revisão a nível científico, didático, bem como contributos de programação e de ilustração multimédia.

O projeto de investigação iniciado em 2021 tem prevista conclusão em 2025.

Para a criação da empresa também contribuiu o interesse da Escola Superior de Media Artes e Design, cujos alunos desenvolveram um protótipo em 3D de um jogo educativo.

Deste trajeto, ao interesse da Direção-Geral da Educação foi um salto e estão em cima da mesa parcerias com municípios.

“Já ganhámos três concursos e os jogos da Kendir [ou recursos educativos digitais, como aparecem descritos nos procedimentos associados à tutela] estão a ser implementados nas escolas, disponibilizados de forma gratuita”, descreveu o mentor de um projeto premiado na edição de 2020 do programa Born From Knowledge Ideias.

O primeiro teste aconteceu em abril, em Canidelo, concelho de Gaia, e para este mês está agendada uma nova pilotagem em Sintra.

“Os alunos adoraram, compreenderam imediatamente o conceito e saltaram das cadeiras de entusiasmo. Os comentários foram do género ‘assim não tinha tirado nega a físico-química’. Correu muito bem”, contou.