Marcelo Rebelo de Sousa, que falava aos jornalistas no final de uma iniciativa no Museu da Eletricidade, em Belém, admitiu, contudo, que o critiquem por esse encontro com o atual provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, porque "o país é livre, as democracias são assim, há liberdade de comentário".

"O fundamental é que os portugueses sabem que não intervenho na vida do PS, nem do PCP, nem do Bloco de Esquerda, nem dos 'Verdes', nem do PAN, nem do PSD, nem do CDS, só para falar daqueles que têm representação parlamentar. E, portanto, na vida de nenhum partido", defendeu.

Interrogado se não pode ter passado a imagem de que "vestiu a camisola" de um candidato à liderança do PSD, o chefe de Estado respondeu: "Não há esse perigo, nenhum. Não visto a camisola de nenhum partido, nem de nenhum candidato, nem de nenhuma sensibilidade partidária, mas rigorosamente de nenhum partido".

"Não tenho, nem tenho de ter, simpatias ou antipatias", acrescentou.

Na segunda-feira, o Presidente da República confirmou ter recebido o atual Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Pedro Santana Lopes, no Palácio de Belém e disse que o encontro foi sobre "o papel da Misericórdia no sistema económico e financeiro português".

Questionado sobre a situação na Catalunha, Marcelo Rebelo de Sousa respondeu que "é um problema do Estado espanhol" e reiterou que "deve ser resolvido no quadro da Constituição e das leis do Estado espanhol".

Portugal, mesmo sendo um país "vizinho, amigo, com relações fraternais desde sempre, ainda assim não deve fazer nenhum comentário através dos seus representantes", considerou.

Relativamente à política nacional, o chefe de Estado recordou que desde que tomou posse tem repetido que Portugal precisa de "um Governo forte" e também de "uma oposição forte".

Em seguida, separou essa ideia da situação atual do PSD: "Sempre defendi isso. Não tem a ver com lideranças partidárias, é uma posição de fundo".

"Sobre esse partido, qualquer partido, a minha posição é sempre a mesma: a pior coisa que um Presidente da República pode fazer é meter-se na vida dos partidos. Portanto, os partidos são livres de decidir o seu futuro, votar a sua estratégia, eleger os seus líderes, e o Presidente da República não pode nem deve envolver-se nessas escolhas partidárias", disse.

No seu entender, é importante haver "um Governo forte", o que implica que a atua "fórmula de Governo inédita e complicada" funcione de forma "coesa e em condições de resolver os problemas do país".

Por outro lado, deve haver "uma oposição forte" para que haja "a certeza de que, no caso de os portugueses quererem escolher uma solução diferente daquela que está hoje no Governo, podem fazê-lo".

O chefe de Estado insistiu que "está num plano que é um plano acima das questões partidárias", com a preocupação de "ter uma capacidade de intermediação, como aconteceu nos últimos dias".

"Nos últimos dias eu ouvi os vários partidos e parceiros económicos e sociais e percebi qual era a evolução política a curto prazo", mencionou, argumentando: "Ora, só é possível ter esse conhecimento e essa capacidade de diálogo com os partidos se o Presidente não vestir a camisola de nenhum partido e, por maioria de razão, de nenhum setor dentro de nenhum partido".