“Usando uma perspetiva psicológica combinada com observação cultural, o autor faz uma análise subtil e profunda dos ‘bebés-gigantes’ que estão em todo o lado” - descrevendo comportamentos narcisistas, transtornos obsessivos compulsivos, insegurança, hipersensibilidade, bipolaridade, ‘síndrome da princesa'-, explorando desta forma a raiz de vários problemas psicológicos, pode ler-se na sinopse da obra.

De acordo com Sigmund Freud, o desenvolvimento psicossexual de um humano tem cinco fases - oral, anal, fálico, letente ou de latência e genital. Segundo Wu Zhihong, a maioria dos chineses nunca se desenvolveu para lá da fase oral e tem a idade mental de uma criança de seis anos.

A fase oral é a primeira do desenvolvimento psicossexual, começa no momento do nascimento e prolonga-se até aos 18 meses. Nesta fase, a boca da criança é o foco de gratificação, pelo que esta tem tendência de colocar objetos na boca.

No livro “O país dos ‘bebés gigantes”, Zhihong escreve que “a maioria dos chineses são crianças à procura das suas mães”. A obra, escreve o Quartz, foi recentemente retirada das lojas físicas e virtuais, levantando a suspeita de que foi censurado porque desafia as tradições e crenças chinesas.

De acordo com Wu Zhihong, crianças com menos de seis anos vivem em simbiose com as suas mães, querem que tudo siga as suas regras, não reconhecem nada entre os extremos do bem e do mal. Para o psicólogo, escreve o Quartz, estas características sumarizam a maioria dos chineses, o que se reflete nas suas relações sociais.

“Quando um filho se casa, a sua mãe vê a nova esposa como uma intrusa na sua relação com o filho e torna-se hostil para com ela. Por outro lado, o filho vê o pai como um intruso enquanto cresce. Então, na família chinesa é normal ver o pai ser afastado numa primeira fase e depois a nora”, exemplificou Wu Zhihong em entrevista ao jornal chinês Global Times, em novembro último.

De uma perspetiva social, os chineses tendem a valorizar o coletivo porque não sabem viver sozinhos, tanto a nível espiritual como material; e tendem a deixar nas mãos daqueles a quem reconhecem poder - pais ou governo - a responsabilidade de tomar decisões sobre as suas vidas, explica o psicólogo.

Estas conclusões lançaram o debate na China, sobretudo face ao sucesso de um programa de televisão ‘casamenteiro’ onde cabe aos pais escolher um par para os seus filhos adultos. O primeiro episódio estreou na véspera do Natal e, segundo o Quartz, pode ser difícil de ver quando se é mulher. Porquê? Porque os pais fazem perguntas às candidatas como “sabes fazer as lides da casa?” e rejeitam agressivamente mulheres que não encaixam nos seus padrões ideias (como uma candidata divorciada, de 40 anos, e com um filho).

Se os críticos veem no programa um reflexo da sociedade dos ‘bebés-gigantes’ e um regresso aos ultrapassados casamentos arranjados na China, outros consideram-no, até certo ponto, um progresso. Além de a apresentadora ser transgénero, há candidatas - empreendedoras de sucesso - que desafiam a ideia da "boa mãe e dona de casa" e filhos de que desafiam as decisões pais, indo contra as suas escolhas ou preferências.

O programa acaba por refletir uma China divida entre os valores tradicionais (em que a mulher deve ser boa mãe e boa dona de casa) e valores mais modernos.

Existe um programa semelhante nos EUA, chamado “Married by Mom and Dad [Casado pela mãe e pelo pai]. O formato é diferente mas a premissa é igual: os pais escolhem os noivos das filhas. Este programa é transmitido no canal TLC, disponível nos pacotes de canais por cabo portugueses.

A editora, Zhejiang People’s Publishing House retirou entretanto o livro de Wu Zhihong das bancas e da loja online em fevereiro, justificando a decisão com problemas ao nível da impressão. Não há data, para já, para a obra voltar a ser vendida.

Além disso, e para adensar as suspeitas de censura, um episódio do programa online Luogic Talkshow, produzido por Luo Zhenyu e que versava esta obra, foi retirado. O mesmo aconteceu com links que conduziam a discussões na internet sobre a obra e suas conclusões.

Wu Zhihong é autor de uma série de sucessos literários na área da psicologia e foi colunista no jornal Guangzhou Daily.