Esta conferência de imprensa é a primeira do género desde o início da guerra na Ucrânia, tendo sido cancelada no ano passado.

Questionado sobre a guerra com Kiev — designada por Moscovo como "operação militar especial", Vladimir Putin referiu que os objetivos da Rússia permanecem inalterados: "a desnazificação e desmilitarização da Ucrânia".

"A paz virá quando alcançarmos os nossos objetivos", acrescentou.

"A menos que queiram chegar a um acordo de forma pacífica, temos de tomar algumas medidas, incluindo uma ação militar", referiu ainda o presidente russo, que destacou que, "hoje, a Ucrânia praticamente não produz ou fabrica nada... eles têm importado coisas de graça".

A solução "será negociada ou alcançada pela força", afirmou. Putin afirmou que a Rússia está suficientemente confiante para "seguir em frente" apesar das sanções económicas, da guerra contra a Ucrânia e do confronto com o Ocidente.

Uma das questões feitas na conferência surgiu de um soldado no Donbass, na Ucrânia ocupada, que começou por afirmar que "a defesa do inimigo está prestes a ruir" e a "vitória está próxima". Depois, perguntou se é possível criar um órgão que permita os veteranos da guerra "educarem os alunos".

"É muito, muito relevante ao mais alto grau e isto é absolutamente óbvio durante o ponto de viragem na história que estamos a viver", atirou Putin. "As guerras não são vencidas pelos generais, são vencidas pelos professores", lembrou, pelo que é importante educar "no patriotismo".

Numa pergunta anterior, sobre a sua candidatura à presidência, Putin lembrou que o fortalecimento da soberania é uma das suas prioridades e que a Rússia “não pode existir sem isso”.

"O mundo ficou surpreendido pelo facto de a economia russa não ter entrado em colapso sob as sanções ocidentais, mas provou ser resiliente e isto vai continuar", garantiu.

Nesse sentido, falou ainda em combater o desemprego, aumentar os salários e o PIB russo e expandir a indústria do país.

Os números do conflito

Sobre o conflito, o presidente garantiu que cerca de 486 mil pessoas já se inscreveram voluntariamente como soldados contratados, além das 300 mil pessoas convocadas no ano passado. "O fluxo não está a diminuir", acentuou, precisando que todos os dias são contratadas 1500 pessoas, com "contratos assinados por dois ou três anos".

“Há 617 mil pessoas na zona de hostilidades”, declarou Putin durante a sua conferência de imprensa televisiva anual.

O líder russo disse que cerca de 244 mil dos efetivos no terreno são soldados que foram chamados a combater ao lado de militares profissionais.

Em setembro de 2022, Putin ordenou uma mobilização militar parcial de 350 mil reservistas para reforçar as forças na Ucrânia, dando origem a protestos e à fuga de milhares de russos em idade militar para o estrangeiro.

Putin não revelou o número de baixas desde o início da invasão, em 24 de fevereiro de 2022, que os Estados Unidos estimam em 315.000 soldados russos feridos ou mortos.

A Europa "tentou sempre empurrar-nos para segundo plano"

Ainda sobre o conflito, Putin culpou as nações ocidentais pelas suas “aspirações de se aproximarem das nossas fronteiras".

"Os russos e os ucranianos são essencialmente um só povo e o que estamos a testemunhar agora é uma grande tragédia que se assemelha a uma guerra civil entre irmãos de lados opostos. E nem sequer é culpa deles, todo o sudeste da Ucrânia sempre foi pró-Rússia", diz o presidente russo, sem justificar a sua afirmação.

Por outro lado, Putin diz que Viktor Orban, o primeiro-ministro húngaro que se opõe à adesão da Ucrânia à UE, não é um político pró-Rússia, mas alguém que protege os interesses nacionais do seu país, ao contrário dos outros líderes do bloco.

Passando aos EUA, conclui que só quando o país mostrar respeito e procurar um compromisso com a Rússia — em vez de usar a força ou sanções — as relações poderão ser normalizadas.

Numa referência a Gaza, Putin diz que os conflitos não têm qualquer semelhança e descreve o conflito no Médio Oriente como uma "catástrofe".