Fani é a primeira mulher procuradora do condado de Fulton. Logo após assumir o cargo, em 2021, a democrata teve que decidir se enfrentaria o ex-presidente. Foi um telefonema de Trump, no qual ele pressionou um funcionário local a "encontrar" votos a seu favor, que desencadeou a investigação.

"A minha carreira ensinou-me que, seja qual for a pressão política, tem que se fazer o correto. Não importa se estamos no Capitólio ou num bairro pobre, temos que prestar contas se cometermos um crime", declarou, após ser eleita para o cargo.

O primeiro contacto de Fani Willis com o mundo do direito remonta à sua infância. Ela nasceu na Califórnia, mas foi criada em Washington, onde o seu pai, advogado e ex-membro da organização comunista Panteras Negras, costumava levá-la com frequência aos tribunais.

Fani lembra que, aos 8 anos, já ordenava os processos, tanto de casos de assassinato como de drogas, uma experiência que guiou os seus passos.

A procuradora estudou na Universidade de Howard, instituição com uma alta proporção histórica de alunos negros, e na faculdade de direito de Emory, na Geórgia.

Fani formou-se em Direito, abriu um escritório e ingressou na procuradoria do condado de Fulton.

Uma procuradora "pitbull"

A procuradora lida com casos frequentemente complexos, como o escândalo de falsificação de resultados de provas em escolas públicas de Atlanta, homicídios e outros, que envolvem grupos criminosos.

Fani processou o rapper de Atlanta Young Thug, no contexto da chamada Lei RICO, um texto usado com frequência contra a máfia e o crime organizado, o mesmo em que se baseou para indiciar Trump e outras 18 pessoas.

"É uma pitbull", descreveu o polícia de Atlanta Vince Velázquez, citado pelo jornal Washington Post. "Se eu cometesse um crime, não gostaria de ser processado por Fani Willis", acrescentou o agente, que trabalhou diversas vezes com Fani.

A plataforma de Donald Trump, Truth Social, está repleta de adjetivos pejorativos ligados à procuradora: "Desempenho muito baixo", "muito corrupta", "fora de controlo" e "RACISTA".

O ex-presidente e a sua equipa acusaram Fani de ter feito campanha e levantado dinheiro com o lema "I will get Trump" ("Vou apanhar o Trump", em português), e sugeriu, durante um comício, que a procuradora tinha um caso com um membro de um gangue.

Fani, que disse ter recebido ameaças, confia no seu trabalho. "Eu nego-me a fracassar", declarou ao Wall Street Journal a mãe de duas filhas, que dedica ao trabalho pelo menos 12 horas por dia.