Tagliapietra, de 46 anos, está em Mar del Plata desde a tarde de quinta-feira, após percorrer em alta velocidade os 400 km que separam esta cidade portuária de Beccar, na periferia norte de Buenos Aires, assim que soube da explosão na zona onde estaria o submarino.

Num telefonema de Fabián Rossi, o chefe direto do filho, Tagliapietra perguntou "se estavam todos mortos". A resposta que ouviu foi um "sim", contou o pai esta sexta-feira entre lágrimas.

Abalado pela notícia, Tagliapietra dirigiu-se até à Base Naval de Mar del Plata para "pedir explicações cara a cara". Foi informado de algumas coisas, mas confessa que "outras não me convenceram".

Os sistemas de deteção hidroacústicos captaram há dez dias uma explosão exatamente na posição onde deveria estar o submarino, que comunicou problemas nas baterias e regressava para Mar del Plata.

Luis, que foi pai de Damián aos 19 anos, chora cada vez que se lembra do seu amor pelo filho, que fazia a sua terceira viagem de submarino.

Sem consolo

"Estou arrasado", confessou à imprensa na ala norte da base naval de Mar del Plata, a poucos metros dos navios atracados e do submarino ARA Salta, um dos dois ao dispor da Marinha argentina.

"Toda a semana foi passar da ilusão à desilusão", disse Tagliapietra, que sabe que a possibilidade de encontrar o filho vivo — como os demais 43 tripulantes do submarino — é infame.

"Espero uma surpresa, mas não acredito. É contraditório. Passas da negação ao sofrimento, do otimismo ao pessimismo. Hoje sou todo pessimismo", desabafou.

Tagliapietra recorda como levava o filho a praticar windsurf ou a ver os jogos do Tigre [clube de futebol argentino da cidade de Victoria]. "Damián era feliz no trabalho. Era a sua paixão", recordou entre lágrimas. Agora, garante querer saber "se morreu instantaneamente ou se sofreu".

Política e explicações

No meio do vento forte que sopra na base, Tagliapietra revela que "não espera nada de ninguém. Os políticos só pensam neles, no voto, e agora estão a avaliar o custo político disto e que cabeças devem cortar para se salvar", denunciou.

Advogado criminalista, Tagliapietra define-se como alguém "antissistema" e revela que esta semana recebeu apenas o telefonema do chefe do filho.

"Mais ninguém entrou em contato [comigo]. Não enviaram sequer uma [mensagem] 'WhatsApp', que é grátis. O que me diz agora, [presidente Mauricio] Macri?", questionou. "Não me importa a cabeça do ministro [da Defesa, Oscar Aguad] ou de Macri, não me importo com mais nada", concluiu Tagliapietra.