Num comunicado enviado à redação, a que a Lusa teve acesso, o Conselho de Redação (CR) do JN, perante a intenção da administração da Global Media Group (GMG) de avançar com um processo de reestruturação de negociação de acordos de rescisão com caráter de urgência num universo entre 150 e 200 trabalhadores, diz que se isto acontecer pode “significar uma machadada de consequências inimagináveis” na capacidade da empresa.

Ou seja, não só na capacidade do JN e dos outros títulos do grupo – onde se inclui o Diário de Notícias (DN), Dinheiro Vivo, TSF, entre outros – “em continuar a fazer jornalismo de qualidade e com interesse para as pessoas”.

E fica “mais difícil ainda porque vários dos nossos camaradas com contrato a prazo estão a ser dispensados, empobrecendo a riqueza e a diversidade da nossa redação e deixando o jornal à míngua de recursos”, refere o CR.

Além disso, “temendo que os despedimentos sejam apenas uma primeira fase de um plano geral destinado a emagrecer as redações dos vários títulos e colocar os jornalistas da GMG a trabalhar de forma indiscriminada para todas as marcas, numa espécie de ‘agência’ interna destinada a alimentar todo o grupo, os membros eleitos do CR manifestam firme oposição a qualquer tentativa deste género”, prossegue o CR.

Além disso, “alertam para os riscos de eliminação da pluralidade e para o fim da diversidade, essenciais ao jornalismo e à GMG, uma vez que atraem leitores diversos a títulos diferentes”, sendo que “seguir este caminho de concentração levanta várias questões de ordem ético-legais, sancionáveis pela entidade reguladora”, aponta o Conselho de Redação do JN.

Salientando que “nenhum jornalista pode opor-se ao reforço de meios num jornal, pelo capital humano e de qualidade que representará”, o CR do JN “não pode deixar de estranhar que tenham sido feitas contratações no Diário de Notícias poucos dias antes de ser anunciado o plano de reestruturação” da Global Media, “que irá afetar até 200 pessoas no grupo e, de acordo com as informações iniciais, pelo menos 40” no Jornal de Notícias.

O CR recorda que o JN “tem uma impressão digital do Norte e é elaborado diariamente com uma marca e um sentido de proximidade aos seus leitores”, pelo que “retirar metade da capacidade de produção ao jornal seria prejudicar gravemente, para não dizer ferir de morte, a relação do JN com os leitores e os territórios que este serve”.

Tal teria consequências “nefastas para o prestígio do JN e eventualmente na qualidade a que os leitores estão habituados, podendo levá-los a procurar outros meios de comunicação”, alerta o CR.

Resumindo, “será impossível fazer o mesmo trabalho e logo ter o mesmo impacto e envolvência, com menos jornalistas”, porque sem jornalistas não há jornalismo, aponta, recordando que, “ao longo das últimas décadas”, o título “tem apresentado e continua a apresentar resultados financeiros positivos”.

O CR critica ainda a “implacável lógica de reduzir cegamente as despesas de pessoal, na tentativa de equilibrar contas”, que “tem levado as empresas a entrar em espirais de encolhimento e decréscimo”.

Os trabalhadores do JN estiveram em greve no início do mês, o que se traduziu na primeira vez em mais de 30 anos que o título não chegou às bancas, em protesto contra o despedimento anunciado pela GMG.