“Faço um apelo último ao primeiro-ministro: use os instrumentos que tem à sua disposição. É afamado em termos de habilidade política, use-a. E convém dizer que ser hábil não é ser habilidoso. Ser hábil é resolver, ser habilidoso é ludibriar. Resolva os assuntos”, afirmou.

O líder do PSD falava na abertura do 3.º Encontro Nacional dos Autarcas Social-Democratas (ASD), em Lisboa, com o tema “Autarquias, que futuro?”, perante uma sala cheia e com algumas pessoas em pé, na qual estava presente o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas.

O encontro será encerrado pelo antigo primeiro-ministro do PSD e ex-Presidente da República Cavaco Silva.

Montenegro insistiu na ideia de que existe no país um “pântano político” e defendeu que “se o Governo não for capaz de mudar, o país vai ter que mudar de Governo”.

O PSD, reiterou, está preparado “para ser protagonista dessa mudança”.

“E o país sabe que nós temos pensamento, sabe que nós temos projeto e o país sabe que temos gente e equipa, e uma grande parte da equipa está aqui nesta sala à minha frente. E nesta sala, como em muitas outras do país, nós estamos motivados, enérgicos, cheios de garra, cheios de força”, considerou.

Para Montenegro, “é preciso que o país perceba se o doutor António Costa já desistiu de Portugal, já desistiu de governar Portugal e de dar dignidade ao Governo da República Portuguesa”.

O líder social-democrata considerou que é preciso estancar a “balbúrdia política e institucional” do atual contexto governativo – seria, no seu entender, “bom para Portugal, para as instituições, para a dignidade da política na sua mais nobre missão, que é servir as pessoas”.

Essa responsabilidade, acrescentou, “está nas mãos de uma pessoa” e “essa pessoa chama-se António Costa”.

“Se o primeiro-ministro entende que é normalizando as anomalias e mantendo tudo na mesma que vai recuperar a credibilidade, a confiabilidade, a dignidade do seu Governo; se o primeiro-ministro entende que é a permanecer impávido e sereno longe da arena, desaparecido em combate - a casa arde mas o dono da casa está fora -; se o primeiro-ministro acha que é isto que vai induzir o país a acreditar no seu futuro, então mais vale mudar de primeiro-ministro”, atirou.

Para Montenegro, é necessária coragem para terminar com o atual “momento infeliz, infelicíssimo da democracia portuguesa”.

Caso contrário, o executivo socialista está a assumir a responsabilidade de levar o país numa má direção, num contexto em que o PSD não vai abdicar de fiscalizar e escrutinar a ação governativa.

“Hoje, mais do que nunca, e talvez mais cedo do que era suposto, nós estamos cada vez mais focados em construir uma alternativa política de Governo para Portugal”, afirmou.

Montenegro considerou que “é muito importante” saber o que se passou no Ministério das Infraestruturas, referindo-se à polémica que envolve Frederico Pinheiro, ex-adjunto de João Galamba, mas defendeu que existem coisas “mais importantes” como a devolução do poder de compra às famílias, a atribuição de médico de família a todos os portugueses ou a resolução dos problemas no setor da educação.

A oposição tem pedido recentemente a demissão do ministro João Galamba e explicações do primeiro-ministro devido à polémica relativa ao Ministério das Infraestruturas, que envolve a acusação – por parte do Governo - de roubo de um computador do Estado por Frederico Pinheiro e a intervenção do Serviço de Informações de Segurança (SIS).

O líder social-democrata salientou ainda que “nunca um Governo dispôs dos instrumentos” que o atual executivo tem à sua disposição: maioria parlamentar, “uma cooperação institucional absolutamente exemplar” com todos os órgãos de soberania ou o facto de a maioria das câmaras serem governadas pelo PS.

Montenegro falou também nos fundos europeus, dizendo que o PS tem milhões para “investir e transformar”, mas olha para o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) como “uma espécie de orçamento suplementar”.

“O doutor António Costa durante anos foi-se gabando que não apresentava orçamentos retificativos. De facto, ele foi empurrando para debaixo do tapete tudo o que foram as cativações que forçaram o país a sofrer o maior desinvestimento nos serviços públicos desde o 25 de Abril. E agora usa o PRR para quê? Não é para criar mais competitividade e produtividade na economia, é para suprir, para retificar a política orçamental que andou a executar nos últimos anos”, acusou.

(Artigo atualizado às 17h05)