“Fizemos um trabalho relâmpago com a segurança interna da LAM de recolher todos os POS e, dos 20 pontos de venda de bilhetes da LAM, recolhemos, até domingo, 81 POS. Há algumas lojas onde os próprios chefes dos estabelecimentos não reconhecem as máquinas e dizem não saber sequer a quem pertencem”, declarou Sérgio Matos, numa conferência de imprensa em Maputo.

A fiscalização começou há quase duas semanas, quando a empresa percebeu que, embora o número de bilhetes vendidos esteja a subir, as contas continuam longe do esperado.

“Está-se a vender, mas a empresa não está a ter todo o dinheiro e nos últimos três meses das avaliações fomos vendo que o diferencial que estávamos a ter estava na ordem entre dois milhões dólares (1,8 milhões de euros) e três milhões de dólares (2,7 milhões de euros). Só no mês de dezembro, estamos com um défice de 3,2 milhões de dólares (2,9 milhões de euros)”, observou.

Sérgio Matos avançou ainda que a inspeção registou casos suspeitos mesmo na recolha de dinheiro vivo nas lojas.

“A recolha do dinheiro em caixa é feita pelas empresas de segurança (…). Quando procuramos saber, nos pontos de venda da LAM, como é que é feita e quando é que recebem constatou-se que, algumas vezes, o depósito é feito três dias depois, o que quer dizer que recolhe-se dinheiro na companhia e depois o dinheiro fica guardado algures por dois, três dias e depois disso é que vem o `borderô´” (documento com demonstração de créditos e débitos de uma operação), afirmou Sérgio Matos.

A inspeção levada a cabo também identificou anomalias no que toca ao abastecimento de combustível às aeronaves.

“Se uma aeronave tem capacidade máxima de combustível na ordem de 80.000 litros, nós chamamos de 80 toneladas, [nos documentos] a mesma aeronave está a ser abastecida a 95 toneladas. Então a questão é onde as 15 toneladas restantes estão a entrar”, questionou.

Além destas anomalias, o diretor de restruturação da LAM denunciou a descoberta de uma conta no Maláui com 1,2 milhões de dólares (1,1 milhões de euros), a que ninguém na companhia tem acesso.

“Ninguém sabe como movimentar ou tirar este valor”, declarou Sério Matos, que denunciou também casos de funcionários “que usam ou usaram fundos da companhia para compra de casas próprias”.

O diretor de restruturação da LAM admite a existência de uma dívida de anos com a empresa pública Petromoc na ordem dos 70 milhões de dólares (64,9 milhões de euros) e, só nos últimos 45 dias, há o registo de uma dívida de 300 milhões de meticais (4,3 milhões de euros) com a mesma gasolineira em resultado da operação de regresso ao espaço europeu (Maputo-Lisboa).

“De dezembro para cá, só temos dívida com a Petromoc e não temos dívida com nenhuma outra gasolineira”, frisou o responsável, em reação a notícias veiculadas na imprensa local que davam conta de atrasos de voos da companhia, no domingo, devido a dívidas com as gasolineiras.

“O problema não se deveu a falta de pagamento (…) mas sim foi por falta de combustível da fornecedora”, frisou Sérgio Matos, acrescentando que a única dívida que a companhia tem (com Petromoc) já começou a ser paga.

A LAM está num processo de revitalização, com a empresa sul-africana Fly Modern Ark (FMA) na sua gestão desde abril do ano passado com um plano de restruturação em curso.

A estratégia de revitalização da empresa segue-se a anos de problemas operacionais relacionados com uma frota reduzida e falta de investimentos, com registo de alguns incidentes, não fatais, associados por especialistas à deficiente manutenção das aeronaves.

A rede de voos da LAM conta com 12 destinos no mercado doméstico, a nível regional voa regularmente para Joanesburgo, Dar-Es-Salaam, Harare, Lusaca, e Cidade do Cabo, enquanto Lisboa é desde 12 de dezembro o único destino intercontinental.

Diariamente, a LAM realiza mais de 40 voos, operados através da sua frota composta por um Boeing 737, três Q400, dois Bombardier CRJ 900 e dois Embraer 145 operados pela sua subsidiária Moçambique Expresso (MEX).