Rui Rio falava num almoço do International Club of Portugal, num hotel em Lisboa. Para o social-democrata, o PSD está pior desde novembro do ano passado, altura em que o ex-presidente da câmara do Porto deu a última grande entrevista pública, ao Diário de Notícias. "Fizeram-me uma pergunta direta e eu dei a resposta direta. Não dei mais do que isso, nem quero dar mais do que isso". "No meu diagnóstico, acho que o PSD está pior, mas não quero acrescentar mais nada", explica aos jornalistas.

Sobre se isso significa que vai avançar para uma corrida à liderança do maior partido da oposição, Rui Rio remete para a entrevista de novembro, onde antevia que, caso o PSD não conseguisse "descolar", era expectável o surgimento de uma alternativa ao atual presidente, Pedro Passos Coelho, admitindo que essa alternativa podia ser ele próprio.

"O que eu disse em novembro está perfeitamente válido, não há que acrescentar nada, nem tirar nada. A única coisa que estou a acrescentar é, face à pergunta, se acho que relativamente a novembro [o PSD] está melhor, pior ou na mesma: acho que está pior", diz Rui Rio.

"O que eu acho disso tudo será na altura própria e a altura própria não é nunca antes do dia 1 de outubro [dia das eleições autárquicas]. Nós no dia 1 de outubro temos umas eleições que para o PSD são particularmente difíceis, particularmente nos grandes centros urbanos, e, portanto, aquilo que é a nossa obrigação, de todos nós que pertencemos ao PSD, é ajudar a que as coisas fiquem melhor e não a que as coisas fiquem pior", disse aos jornalistas.

"Se eu antes do dia 1 de outubro responder a essas perguntas, não estou a ajudar, estou a prejudicar o PSD e não é isso que eu quero”, completou.

Durante o debate com os participantes no almoço, alguém perguntava a Rui Rio, diretamente, se estaria disponível a candidatar-se à chefia do PSD, mas do portuense a resposta foi também indireta: "Se estou preparado para assumir a liderança do meu partido? Isso não posso ser eu a responder, têm de ser as pessoas a avaliar isso", disse, numa resposta que terminou com risos e palmas da assistência.

Antes sequer de os jornalistas fazerem qualquer pergunta, o ex-vice-presidente do PSD deixou claro que não ia comentar o atual momento do país: “Podem perguntar o que quiserem, não vos vou dizer nada”, disse Rui Rio, escusando-se, assim, a comentar a atual conjuntura.

Primárias intermitentes

Rui Rio diz que "por norma" é contra as primárias (abertas a simpatizantes e não só a militantes) para a escolha de candidatos a líderes dos partidos. A resposta foi a um dos presentes no almoço. Porém, Rio admite que pode ser uma "medida extraordinária" de abertura à sociedade interessante.

Propõe, todavia, um modelo com caráter excecional, tendo em conta o afastamento das pessoas: "Por exemplo, definir que as próximas duas são abertas [a simpatizantes] ou que de 12 em 12 anos são abertas", disse o ex-autarca. "Eu acho que os sócios do Benfica votam no Benfica e não no Sporting e relativamente aos partidos é a mesma coisa: quem é militante do PSD vota no PSD", explica.

Agência Europeia do Medicamento

Durante o almoço, num hotel em Lisboa, soube-se que o executivo de António Costa irá avançar com o Porto para a candidatura portuguesa à nova sede da Agência Europeia do Medicamento, que sairá de Londres, Reino Unido, após a saída deste país da União Europeia.

Rui Rio soube-o pelos jornalistas, mas congratula a decisão do governo socialista, porém, não sem deixar críticas à falta de oportunidades de desenvolvimento dadas às cidades portuguesas.

"Se essa é a decisão e se a decisão é o Porto, acho muitíssimo bem. Mas se me dissesse que a decisão não era o Porto, mas era Coimbra, Braga ou uma qualquer outra cidade que não a capital do país, eu achava sempre bem, não é por eu ser do Porto. Acho bem que o país seja descentralizado e que se deem oportunidades de desenvolvimento a todas as cidades e ao dizer a todas as cidades, começo pela cidade de Lisboa, porque a cidade de Lisboa, com a concentração que aqui tem, degrada a vida das próprias pessoas que vivem em Lisboa. Portanto, a descentralização, e neste caso é mais a desconcentração, é positiva para o país todo a começar pela própria cidade de Lisboa"

"O Porto tem excelentes condições, tudo aquilo que ouvimos [serem requisitos], tem todas as condições para poder ser no porto a Agência Europeia do Medicamento".

Condições que vão no mesmo sentido das salientadas pelo ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, que diz que "o Porto está mais próximo do centro da Europa, está mais perto do centro da Península [Ibérica]".

Descentralizar, Desconcentrar, Descorromper

Depois do almoço, Rui Rio teve meia hora para falar de Portugal e dos desafios económicos e políticos que se colocam ao país. Apontou sobretudo problemas de ordem política, como um “discurso político de facilidades”, um “desprezo pela poupança” e um “desprezo pelo endividamento externo”, que é, para Rio, “castrador do crescimento”. Critica ainda a aplicação de teorias keynesianas, que “eram para ser aplicadas noutro contexto”, num contexto sem endividamento elevado, explica aos presentes no almoço.

O problema, porém, não é de hoje, e Rui Rio encontra-lhe raízes na preparação de Portugal para a entrada na moeda única, criticando a “demagogia atrás de demagogia desde 1995”, e acrescenta que “cada vez há menos gente boa na política”. Prenunciando que “qualquer dia não há português sério e competente disponível para o serviço público”.

“Aquilo que prevejo é, na prática, o fim da democracia”, aventa o ex-autarca, explicando que “quanto mais fraco é o poder político, menos democracia há”, porque tem “menos poder para se impor”. O “regime não está capaz de servir a sociedade”, sendo necessária uma reforma do sistema político, mas também da justiça e do próprio Estado.

"Só vejo uma reforma que por si só pode consubstanciar uma alteração muitíssimo grande, que é a descentralização com responsabilidade política, a desconcentração", reiterou o ex-vice-presidente social-democrata.

Rui Rio defendeu ainda que, na dimensão política, o problema "não é o Governo de ontem, hoje ou amanhã" mas "o desgaste do regime político". E lembra: o atual “regime político tem a mesma idade que tinha o Estado Novo quando caiu”.

"Se este regime não está tão desgastado como estava o outro, a verdade é que há uma série de indicadores objetivos de que o regime não está capaz de servir esta sociedade", disse, defendendo alterações de fundo também na Justiça e no Estado.

Atualmente um dos quadros da Boyden, uma multinacional de recursos humanos, Rui Rio defende que as alterações no sistema político devem ser no sentido de gerar mais governabilidade e prestigiar a política. "Não é sustentável o país continuar como atualmente, em que estar na política já é mais cadastro do que currículo", alerta.

E deixa um aviso: “as pessoas não estão zangadas com os políticos”, mas com a política, “por força do desgaste do regime como um todo.”

"Estou preocupado que o PSD possa desaparecer"

As palavras não são de Rui Rio, mas de um outro social-democrata presente no almoço. Em declarações ao Público e à agência Lisa, Rui Gomes da Silva, ex-ministro do PSD, não quis falar sobre questões de liderança, mas admite estar preocupado com o partido e com aquilo que as sondagens preveem para o futuro.

"Estou preocupado que, numa reorganização do sistema partidário, o PSD possa desaparecer", disse. Gomes da Silva pede um discurso "mais identificado" e com mais carisma, mas alerta que, se tal passar por mudar a liderança, "terá de passar".

Para além dele, no almoço estiveram presentes os também ex-ministros do PSD Ângelo Correia, Mira Amaral e Eduardo Catroga, o deputado Feliciano Barreiras Duarte e os ex-deputados Jorge Neto e André Pardal, bem como o ex-líder do CDS-PP Ribeiro e Castro e o ex-chefe da Casa Civil do anterior Presidente da República Cavaco Silva.