"Por iniciativa da Rússia, um 'regime de silêncio' entrou em vigor em Aleppo, durante 48 horas, a partir das 00H01 de 16 de junho com o objetivo de reduzir o nível de violência e de estabilizar a situação", informou o ministério em Moscovo. O comunicado não indica com quem a Rússia negociou esta trégua.

Na nota, o ministério da Defesa acusa a Frente Al-Nosra, braço sírio da Al-Qaeda, de ter atacado vários bairros em Aleppo com lança-foguetes e de ter realizado uma ofensiva com tanques contra o sudoeste da cidade.

Horas antes do anúncio, o chefe da diplomacia americana, John Kerry, tinha advertido o presidente sírio, Bashar al-Assad, e a Rússia sobre a necessidade de se respeitar o fim da violência. "É evidente que o cessar das hostilidades é frágil e está ameaçado, e que é crucial instaurar uma verdadeira trégua. Somos conscientes, não temos ilusões", disse o secretário de Estado americano em Oslo, numa referência ao cessar-fogo instaurado em fevereiro, com mediação de Moscovo e Washington, mas que é desrespeitado desde abril.

"A Rússia tem que entender que a nossa paciência não é infinita. De facto, é muito limitada no que diz respeito a saber se Assad prestará ou não contas", destacou Kerry, que se reuniu em Oslo com o colega iraniano Mohamad Javad Zarif. Washington "também está disposto a pedir contas aos membros da oposição que continuam os combates, violando o cessar-fogo", disse.

Além da trégua, Rússia e Estados Unidos estão a tentar promover um processo de paz, atualmente paralisado, para acabar com um conflito que provocou mais de 280.000 mortes e deixou milhões de deslocados em cinco anos.

No campo de batalha, pelo menos 70 combatentes dos dois lados morreram, em 24 horas, em confrontos entre as forças do regime e rebeldes aliados com extremistas, no sul da cidade síria de Aleppo, na província com o mesmo nome, informou a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

As forças pró-regime, apoiadas por bombardeios da aviação síria e russa, conseguiram reconquistar, esta quarta-feira, Zeitan e Jalasa, duas localidades a sudoeste de Aleppo que tinham sido tomadas pelos insurgentes algumas horas antes, de acordo com o OSDH.

Jalasa fica numa colina, com visibilidade sobre uma ampla região do sul da província de Aleppo, principalmente a estrada utilizada pelas forças do regime para abastecimento.

A norte de Aleppo, o regime bombardeou a principal estrada de abastecimento dos rebeldes e a região de Al-Maleh, segundo o OSDH. "A corrida contra o tempo para cercar Aleppo está em marcha", disse o diretor da ONG, Rami Abdel Rahman.

A cidade de Aleppo está dividida em duas: a zona oeste, sob poder do regime, e a zona leste, controlada pelos rebeldes. No plano humanitário, 55 organizações sírias da oposição afirmam num documento que a ação da ONU na Síria "viola os princípios humanitários e pode avivar o conflito". Num relatório muito crítico, acusam a ONU de "perder de vista os valores humanitários vitais da imparcialidade, independência e neutralidade".

Segundo o relatório, em abril de 2016, 88% das entregas de alimentos aconteceram em regiões controladas pelo regime e 12% em setores fora de seu controlo.

Missão difícil

Centenas de milhares de civis encontram-se sitiados em cidades cercadas, na sua maioria por forças governamentais, sem acesso a comida e ajuda médica. "Não ajudamos os sírios de acordo com o local em que se encontram, e sim de acordo com as suas necessidades", reagiu o coordenador humanitário da ONU na Síria, Yaacoub El Hillo. "Seria uma missão suicida para os voluntários entrar num comboio de ajuda sem autorização", insistiu.

Em cinco anos de guerra, a Síria transformou-se num território totalmente dividido, onde combatem forças do regime, grupos rebeldes, extremistas e curdos, sem contar com o envolvimento de forças estrangeiras, como os países ocidentais da coligação internacional antijihadista.