A afirmação foi hoje avançada pela investigadora do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa (IHMT/UNL) Silvana Belo, durante uma apresentação sobre doenças tropicais negligenciadas que decorreu no primeiro dia do 6.º Congresso de Medicina Tropical, em Lisboa.

A Schistosomose é uma doença parasitária, responsável por um elevado número de mortes todos os anos e considerado um problema de saúde pública.

As formas larvares dos parasitas são libertadas por moluscos (caracóis) de água doce e são transmitidas aos seres humanos por penetração através da pele, após o contacto com coleções de água infetadas.

Silvana Belo transmitiu as abordagens e os progressos contra esta doença nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), tendo sublinhado, pela positiva, a situação de São Tomé e Príncipe, onde o tratamento preventivo foi aplicado a mais de 75% da população alvo.

Por esta razão, a meta de eliminar a doença neste país até 2025 parece cada vez mais possível, disse a investigadora.

A outra surpresa neste diagnóstico foi Cabo Verde, que até há pouco tempo sempre esteve livre de focos e que agora tem casos registados em 2022 na ilha de Santiago (município de São Miguel).

Os casos estão a ser monitorizados e a situação acompanhada pelas autoridades de saúde pública, em colaboração com o IHMT português.

Para Silvana Belo, esta surpresa em Cabo Verde pode estar relacionada com a expansão da Schistosomose na Europa — com casos em França e em Espanha — e que, por seu lado, pode ter origem na “mobilidade populacional” a existência de “moluscos compatíveis” e as alterações climáticas.

“As temperaturas (na água e no ambiente) mais altas permitem que o parasita possa completar o ciclo e torne o foco endémico”, disse.

Em relação aos outros PALOP, a especialista em doenças tropicais negligenciadas indicou que os casos estão a ser monitorizados em Angola, Moçambique e na Guiné-Bissau, países com levados níveis de endemicidade.

A falta de alternativas farmacológicas e a emergência de estirpes resistentes ao praziquantel, um anti-helmíntico antiparasitário de amplo espetro, dificulta o trabalho dos investigadores nesta área, que apostam agora em abordagens mais inovadoras, como ao nível da genética parasitária.

O Congresso Nacional de Medicina Tropical (CNMT), que decorre hoje e na sexta-feira nas instalações do IHMT, em Lisboa, é o maior evento técnico-científico na área das doenças tropicais realizado em Portugal e conta com várias participações internacionais, nomeadamente da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

A medicina tropical e o desenvolvimento sustentável, na linha dos objetivos expressos pela Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), é o tema deste encontro.