“A CAP endereçou hoje ao primeiro-ministro um pedido de reunião urgente para que possam ser tomadas decisões céleres e eficazes que permitam mitigar os efeitos da seca extrema que Portugal está a atravessar”, anunciou, em comunicado.

Para a confederação, tendo em conta que não é possível prever a evolução meteorológica, é necessário “atuar imediatamente”.

No entanto, sublinhou que os apoios apresentados pelo Governo são “parcos, insuficientes e pouco adequados”.

A situação de seca severa e extrema, a conjuntura internacional “comporta riscos reais”, notou, apelando assim à intervenção do primeiro-ministro.

“Apela-se a uma resposta coordenada dos ministérios das Finanças, Ambiente, Coesão, Planeamento e da Agricultura para se enfrentar de forma pragmática as exigências e necessidades do atual contexto. A situação de seca não pode esperar pela tomada de posse do novo Governo para ver as medidas propostas devidamente acionadas”, referiu.

Os agricultores apresentaram ainda um conjunto de aproximadamente 30 medidas para ajudar o setor agrícola a fazer face à seca.

Entre estas incluem-se a derrogação à prática de diversificação de culturas, o pastoreio nas áreas de pousio até 31 de julho e apoios diretos aos agricultores afetados, por exemplo, através do Programa de Desenvolvimento Rural (PDR) 2020 e do Fundo Ambiental.

Por outro lado, a CAP reclama a redução do período de retenção das espécies para “aliviar a carga animal nas explorações agrícolas” com dificuldades no abeberamento e alimentação dos efetivos pecuários, a majoração no apoio às raças autóctones, o reforço do financiamento do Estado para a sanidade animal, bem como a possibilidade de alargamento entre partos para 24 meses nas ajudas relativas às vacas aleitantes.

Esta confederação propôs também que seja assegurado o pagamento ligado à superfície de arroz e permitida a prorrogação por um ano da data limite de execução do VITIS (Regime de Apoio à Reestruturação e Reconversão da Vinha) da campanha 2020/2021, “com pedido de adiantamento submetido e com data limite de execução de 30 de junho de 2022”.

Adicionalmente, a CAP reclama a implementação de um apoio à eletricidade verde e de contratos sazonais de eletricidade para a agricultura, a criação de um programa de eficiência energética para o regadio e a suspensão temporária dos pagamentos à Segurança Social.

Falta de água pode originar “quebras” na produção de vinho da Beira Interior

O presidente da Comissão Vitivinícola Regional da Beira Interior (CVRBI), Rodolfo Queirós, admitiu hoje que a seca pode provocar “quebras” na produção, mas se chover nos meses de março e de abril “não haverá grandes problemas”.

“Ainda é um bocadinho prematuro estarmos a traçar cenários, porque as vinhas, neste momento, estão naquele período mais de dormência. Em alguns casos, as videiras ainda estão a ser podadas. Mas, obviamente, que se as terras não tiverem as reservas hídricas que normalmente têm, o problema há de colocar-se lá mais para a frente, para o verão”, disse hoje à agência Lusa o presidente da CVRBI, que tem sede na Guarda.

Segundo Rodolfo Queirós, se a atual situação de seca não se alterar, “pode trazer alguns problemas, nomeadamente um stresse hídrico muito forte [para as videiras], que depois implica que haja quebras” na produção de vinho.

O ano “está a vir mais quente, o que pode implicar um abrolhamento mais precoce e poderá também fazer com que o risco de geadas tardias, em finais de abril e inícios de maio, que muitas vezes ocorrem em algumas regiões, possa ser maior este ano, em função do adiantar do ciclo das videiras, em virtude de as temperaturas médias terem vindo a ser mais elevadas”, explicou.

Rodolfo Queirós aponta, no entanto, que “se chover em março e abril não haverá grandes problemas” para o setor, porque a vinha da região da Beira Interior “abrolha mais tarde do que noutras regiões mais quentes”.

“A produção de uva de qualidade é sempre dada com algum stresse hídrico. Mas, naturalmente, se não chover durante alguns dias nos próximos tempos, a situação pode tornar-se complicada para todos”, admitiu.

A CVRBI está a dialogar com os produtores seus associados e a acompanhar a situação.

“Estamos a ver como as coisas estão a evoluir e, quando for necessário, e se for necessário, cá estaremos para fazer as reivindicações que possam vir a ser tomadas para mitigar este problema, que é um problema que pode tornar-se muito complicado”, disse Rodolfo Queirós.

A CVRBI abrange as zonas vitivinícolas de Castelo Rodrigo, de Pinhel e da Cova da Beira, nos distritos de Guarda e de Castelo Branco, que correspondem a uma área de 20 municípios, onde se contabilizam cerca de cinco mil viticultores.

Na área da CVRBI, com perto de 16 mil hectares de vinhas e uma grande variedade de castas (destacando-se as brancas Síria, Arinto e Fonte Cal e as tintas Tinta Roriz, Rufete, Touriga Nacional, Trincadeira e Jaen), existem cerca de 60 produtores de vinho, sendo quatro adegas cooperativas e os restantes produtores particulares.

Mais de 90% do território estava a 15 de fevereiro em seca severa ou extrema, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), que indica um novo agravamento da situação de seca meteorológica no país.

O último boletim de seca indica valores de percentagem de água no solo inferiores ao normal em todo o território, com as regiões Nordeste e Sul a atingirem valores inferiores a 20%, com “muitos locais a atingirem o ponto de emurchecimento permanente”.