O autor é o arcebispo Georg Gaenswein e o título é “Nothing but the Truth: My Life Beside Pope Benedict XVI” (“Só e Apenas a Verdade: A Minha -Vida ao Lado do Papa Bento XVI”).

O livro vai ser publicado este mês pelas edições Piemme, do grupo editorial italiano Mondadori, segundo um comunicado enviado ás redações.

Bento faleceu este sábado, com 95 anos de idade, e o seu corpo foi colocado em urna aberta hoje na Basílica de São Pedro. O funeral está marcado para quinta-feira e as cerimónias vão ser dirigidas pelo papa Francisco.

Gaenswein, um sacerdote alemão, de 66 anos, tem estado ao lado de Bento desde há cerca de três décadas, primeiro a trabalhar para o então cardeal Joseph Ratzinger, na Congregação para a Doutrina da Fé, e depois, a partir de 2003, como seu secretário pessoal.

Gaenswein seguiu Ratzinger para o Palácio Apostólico, quando este foi eleito Papa, em 2005. E uma das imagens do dia 28 de Fevereiro de 2003, o último dia do Papado de Bento XVI, foi a de Gaenswein a chorar enquanto acompanhava Bento através dos corredores com quadros do Vaticano, a dizer adeus.

Permaneceu depois como guardião, confidente e protetor de Bento durante o seu retiro, ao longo de uma década, o que acumulou com a chefia da residência de Francisco.

Foi Gaenswein que deu a unção dos enfermos na quarta-feira, quando a saúde de Bento se deteriorou, e foi ele que anunciou a Francisco a morte do seu antecessor, no sábado.

Segundo a Piemme, o livro de Gaenswein contém “um testemunho pessoal sobre a grandeza de um homem afável, um académico distinto, um cardeal e um papa que fizeram a história do nosso tempo”.

Mas, acrescentou a editora, o livro também contém um relato em primeira mão que vai corrigir alguns aspetos “incompreendidos” do pontificado, bem como as intrigas no Vaticano.

“Hoje, depois da morte do papa emérito, é a altura de o chefe da residência papal dizer a sua verdade sobre as calúnias descaradas e as manobras sujas que tentaram em vão lançar sombra sobre o magistério e as ações do pontífice alemão”, ainda segundo o comunicado.

As revelações de Gaenswein vão “divulgar finalmente a verdadeira face de um dos maiores protagonistas das décadas recentes, demasiadas vezes denegrido pelos seus críticos como ‘Panzerkardinal’ ou o ‘Rottweiler de Deus'”, especificou a editora, referindo-se a algumas da alcunhas mais publicadas nos meios de comunicação relativas ao alemão, conhecido pelo seu pendor de doutrinário conservador.

Especificamente, a editora revelou que Gaenswein vai tratar do escândalo conhecido como “Vatileaks”, no qual o seu próprio mordomo divulgou a sua correspondência pessoal a um jornalista, bem como do escândalo dos abusos sexuais protagonizados por clérigos e ainda de um dos mistérios mais duradouros do Vaticano, correspondente ao desaparecimento, em 1983, de Emanuela Orlandi, filha de um empregado do Vaticano, então com 15 anos.

O livro parece ser parte de uma operação mediática montada por Gaenswein, que inclui a publicação hoje de excertos de uma entrevista longa que deu à televisão pública italiana RAI no mês passado, que vai ser divulgada na quinta-feira, depois do funeral.

Segundo os excertos antecipados hoje pelo jornal La Repubblica newspaper, Gaenswein conta como procurou dissuadir Bento de resignar, depois de este lhe ter comunicado, em setembro de 2012, que tinha tomado esta decisão.

Isto ocorreu seis meses depois de Bento ter caído durante a noite durante uma visita ao México e concluído que não estava capaz de suportar as exigências do cargo.

“Disse-me: ‘Você pode imaginar que tenho pensado sobre isto desde há muito e em profundidade. Tenho refletido. Tenho rezado. Tenho lutado. E agora estou a comunicar-lhe que a decisão foi tomada. Não está sujeita a discussão”, segundo Bento, relembrado agora por Gaenswein.

O autor do livro também se refere aos conflitos, escândalos e problemas que Bento enfrentou durante o seu pontificado, ao longo de oito anos, e lembrou que este tinha pedido orações no início para o proteger dos “lobos” que estavam à sua espera.

Em particular, Gaenswein citou a traição do “Vatileaks”, que levou à condenação do mordomo em um tribunal do Vaticano, apenas para ser perdoado pelo papa dois meses antes de resignar.

“Quem pense que pode haver um papado calmo escolheu a profissão errada”, aponta ainda Gaenswein.