“Sem nós não há comida” ou “Política com visão de futuro? Nem pensar!” são algumas das mensagens que podem ler-se nos cartazes de cerca de 30 agricultores, que prometem continuar as ações de luta se não forem ouvidos.

“Vamos até onde for preciso. Somos agricultores, estamos habituados ao tempo imprevisível, estamos preparados para tudo”, sublinha Ronny Lehmann, agricultor há 28 anos a viver na região de Brandeburgo.

“É a quinta vez que venho a Berlim protestar. Hoje é especialmente importante porque neste edifício (Bundestag) está a ser discutido o nosso futuro. Precisamos de continuar a ter apoio para que esta profissão continue a existir”, salienta em declarações à agência Lusa.

Os agricultores voltam a exigir ao governo a isenção de impostos sobre os veículos agrícolas e florestais e o apoio ao gasóleo agrícola, depois de várias manifestações durante os meses de dezembro e janeiro que juntaram milhares de tratores em Berlim e bloquearam as principais vias da capital alemã.

Fabian Erich, um dos organizadores do protesto de hoje, realça que em causa está o futuro da profissão, especialmente para quem a exerce em pontos mais remotos do país.

“É cada vez mais difícil viver disto, e sem os subsídios ao combustível agrícola é simplesmente impossível. Mas os agricultores são resilientes e, sobretudo, gostam do que fazem”, acrescenta.

Os protestos também se verificam noutros pontos do país. Na região de Trier, a entrada na autoestrada A602, perto de Kenn, esteve bloqueada durante o início da manhã. Na ponte entre Wellen e Grevenmacher (no Luxemburgo) pilhas de estrume impediram a circulação do trânsito.

No estado federado da Alta Saxónia, pelo menos 73 vias de acesso foram bloqueadas, de acordo com os jornais locais, que contabilizam cerca de quatro centenas de manifestantes.

A Associação Alemã dos Agricultores, principal organizadora das manifestações de hoje, apelou ao chanceler Olaf Scholz, através de uma carta aberta, para que encontre uma solução viável para o setor.

“A vontade, até agora irreconhecível, do Governo Federal de fazer mais concessões ao setor do gasóleo agrícola levou a uma enorme perda de confiança no executivo por parte dos agricultores”, sublinha o presidente da associação, Joachim Rukwied, em comunicado.

“Para que esta perda de confiança não se agrave ainda mais, é urgente que os políticos deem um sinal claro de que a agricultura na Alemanha deve ter futuro e que está assegurada a competitividade da nossa agricultura”, pode ler-se no documento.

Os agricultores alemães reivindicam benefícios fiscais e medidas para reforçar a gestão individual dos riscos agrícolas, isenção fiscal para a utilização de combustíveis não fósseis na agricultura, um programa para restaurar a competitividade no mercado único europeu, e uma iniciava “séria e eficaz” para reduzir a burocracia a nível nacional e europeu.

Os protestos na Alemanha subiram de tom em dezembro, depois do governo da coligação ‘semáforo’, formado pelo Partido Social Democrata (SPD), os Verdes e os liberais do FDP, ter apresentado uma série de medidas para tapar um buraco de 17 mil milhões de euros no orçamento.

No pacote de medidas estava o corte dos subsídios ao combustível agrícola que recebeu luz verde da comissão de orçamento do parlamento.

Até sexta-feira, é discutida a aprovação final do orçamento de estado para 2024.