Embora tivesse 15 dias para promulgar o texto caso este fosse legalmente validado na sua maior parte, como aconteceu, o Presidente francês não esperou e fê-lo logo na sexta-feira à noite (por volta das 04:00 da madrugada locais), embora só tenha sido publicado esta manhã no Diário Oficial da República.

Desta forma, o diploma, que afeta gradualmente os nascidos a partir de 1961, estará pronto para entrar em vigor a partir do próximo mês de setembro.

Num contexto de tensão persistente nas ruas — na sexta-feira à noite foram feitas 150 detenções em Paris e ocorreram tumultos em Rennes — esta atitude de Macron enfureceu os sindicatos e os partidos de esquerda, os principais motores dos protestos e greves organizados ao longo dos últimos três meses contra as alterações à idade da reforma.

“Macron quis intimidar toda a França roubando, da noite para o dia, dois anos de liberdade a todos os trabalhadores. É um gesto de arrogância sem sentido. A luta pela revogação da lei agora é uma questão de dignidade”, afirmou num ‘tweet’ o líder da esquerda francesa, Jean-Luc Mélénchon.

O sindicato maioritário, o CFDT, incentivou à continuação dos protestos, sustentando que “há muito descontentamento e esse descontentamento deve ser expresso”. Esta organização, que lidera a mobilização, juntamente com a CGT, rejeitou o convite de Macron para o Eliseu, na próxima terça-feira.

A principal opositora do Presidente, Marine Le Pen, da extrema-direita, chamou a atenção ao postar, esta manhã, uma mensagem no Twitter sobre o quarto aniversário do incêndio em Notre Dame e não sobre a promulgação de Macron.

O Conselho Constitucional validou a maior parte da reforma das pensões, mas invalidou seis artigos, especialmente dois relativos à promoção da contratação de trabalhadores com mais de 55 anos em grandes empresas.

No entender do Conselho Constitucional, estes artigos não tinham lugar numa lei sobre o financiamento da Segurança Social.

O organismo fiscalizador da constitucionalidade também rejeitou um pedido para que a reforma das pensões fosse submetida a um referendo de iniciativa dos cidadãos.

Para ultrapassar a incerteza na votação parlamentar, Macron recorreu a um artigo da Constituição que permite aprovar uma lei das pensões sem a submeter a votação na Assembleia Nacional.