O empresário António Saraiva toma hoje posse como presidente da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP) para um mandato de quatro anos, durante o qual pretende concentrar-se na sustentabilidade económico-financeira da instituição e otimizar a rede de 159 delegações.

Em entrevista à agência Lusa antes de tomar posse, António Saraiva enumerou como prioridades a valorização e formação dos profissionais, bem como a requalificação de toda a rede da entidade que vai dirigir, considerando que "das 159 delegações umas encontram-se em situação desafogada, outras nem tanto”.

“Vivemos da solidariedade e dos apoios que vamos recebendo e por isso nem todas as delegações vivem com o mesmo desafogo financeiro. Há que olhar para toda a rede e reestruturar, dando sustentabilidade económico-financeira”, afirmou António Saraiva, antigo presidente da Confederação Empresarial de Portugal .

De acordo com o novo presidente da CVP, é necessário um trabalho de maior ligação entre as diferentes estruturas espalhadas pelo país.

António Saraiva disse à Lusa que uma das medidas que tenciona tomar é a criação de uma central de compras, estando também já identificada a necessidade de melhorar a gestão da frota: “Temos 1.300 viaturas, ambulâncias, carros de apoio domiciliário, enfim todo um conjunto de viaturas a que é preciso dar uma lógica de gestão integrada”.

O orçamento anual da CVP ronda os cem milhões de euros, o que é “sempre pouco” para o trabalho que realiza e para responder ao número crescente de solicitações, assumiu.

Segundo António Saraiva, durante o primeiro semestre do ano, o número de pedidos de ajuda foi superior ao do mesmo período de 2022.

“Os pedidos de ajuda têm vindo a aumentar. As necessidades de apoio para ajudar aqueles que mais necessitam são cada vez maiores. E, por isso, há que ter uma gestão muito equilibrada, há que captar o maior número de apoios, porque os pedidos de ajuda são cada vez maiores”, disse.

Os dados de que dispõe indicam que o número de pedidos de ajuda aumentou 74% em 2022, face ao ano anterior, uma tendência que está “longe de se inverter”.

“Só nos primeiros meses do ano de 2023, já recebemos quase o dobro de pedidos de apoio, comparativamente com o período homólogo”, sublinhou.

Os pedidos de ajuda surgem da população em geral pelos mais diversos motivos: pagamento de rendas e consultas, assim como despesas correntes e bens de primeira necessidade. Nesta área estão incluídos pedidos de produtos de higiene, pagamento de contas de eletricidade, água e gás e compra de material escolar. “Há um sem número de pedidos de ajuda em todas estas variáveis”, contou.

“Temos de ter serviços centralizados para otimizar a sustentabilidade económico-financeira da entidade e caminhar no sentido de uma maior articulação entre as 159 delegações, dotar a entidade de uma gestão de frotas eficiente, uma central de compras que faça a gestão de toda a rede de uma forma mais rigorosa, acompanhando aquilo que são hoje as possibilidades dos meios informáticos que temos para melhorar tudo o que é possível melhorar numa rede com esta amplitude”, defendeu.

A Cruz Vermelha atua em 14 áreas, incluindo a emergência médica, sendo um dos parceiros da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que vai decorrer na primeira semana de agosto e que trará a Portugal o papa Francisco, num evento para o qual são esperados 1,5 milhões de peregrinos.

“Vamos estar envolvidos na Jornada Mundial da Juventude com um número significativo de equipamentos e de pessoas, médicos, enfermeiros, postos médicos avançados, ambulâncias em alerta, integrando com o INEM todo este apoio que vai ser necessário”, adiantou António Saraiva.

A Cruz Vermelha terá 10 postos médicos avançados, 20 ambulâncias e 45 equipas apeadas que vão estar a cobrir diferentes zonas de Lisboa, nomeadamente o Parque Eduardo VII, e também o Parque Tejo, marcando, como habitualmente, presença também em Fátima.

“Temos 320 voluntários envolvidos, 1.334 operacionais acumulando turnos, temos 944 horas de médicos, 944 horas de enfermeiros, 1.097 horas de socorristas, 472 horas de psicólogos, temos uma célula operacional em Santo Estêvão”, fora de Lisboa, acrescentou António Saraiva, que desempenhará o cargo de presidente da CVP em regime 'pro bono' (sem remuneração).