Linda vivia numa pequena cidade da Saxónia. No meio de casas de cor desmaiada, como conta o jornal alemão ‘Spiegel’, a jovem estudante morava com a mãe, o padrasto e a meia-irmã. Há um ano, porém, Linda deixou a Alemanha para se juntar às fileiras do autoproclamado Estado Islâmico (EI) e casar com um combatente checheno, que terá conhecido nas redes sociais.

O interesse pelo Islão surge, aparentemente inesperado, na primavera de 2016. Boa aluna, Linda Wenzel começa a mudar radicalmente aos 15 anos. Falou aos pais do seu interesse pelo Islão, mas nunca lhes contou que se convertera à religião. Procurava notícias, falava com islamitas no Facebook.

Durante o jejum do Ramadão, disse aos pais que estava a fazer uma dieta. “Não demos muita importância”, diz a mãe de Linda, citada pelo Guardian, “até lhe comprámos uma cópia do Alcorão”.

Disse aos pais que ia passar o fim de semana a casa de uma amiga. Na verdade, voou para Istambul, na Turquia. Atravessou a fronteira e juntou-se ao Estado Islâmico. Terá chegado a Mossul em outubro.

Os pais procuravam-na desde que desapareceu em julho do ano passado. Agora, foi encontrada numa prisão em Mossul, com mais três mulheres com passaporte alemão. Presa por forças iraquianas, Linda Wenzel - ou Linda W., como as autoridades germânicas a identificam - estava num grupo de 20 mulheres apoiantes do EI, vindas da Rússia, Turquia, Canadá, Líbia e Síria, que se barricaram com armas e explosivos num túnel debaixo das ruínas de Mossul.

A prisão de Wenzel foi confirmada pelo procurador público sénior de Dresden, Lorenz Haase, acrescentando que a adolescente está a receber apoio consular.

Em entrevista a alguma imprensa germânica, como as emissoras NDR e WDR e o Süddeutsche Zeitung, Linda terá dito que “só [quer] sair [de Mossul]”. “Quero sair da guerra, das armas, do barulho”, disse, citada pelo britânico Guardian. “Só quero ir para casa, para a minha família”.

Diz a imprensa alemã que Wenzel terá um ferimento de bala numa das coxas, bem como uma outra ferida num dos joelhos, causado, explica a jovem, por um ataque de helicóptero.

A imprensa alemã conta que Linda Wenzel quer agora ser extraditada para a Alemanha e que vai cooperar com as autoridades. Explica o britânico ‘Telegraph’ que à luz da legislação iraquiana, a jovem pode ser condenada a até 15 anos, se ficarem provadas as acusações de terrorismo.

"Há a possibilidade de Linda ser julgada no Iraque", disse Lorenz Haase. "Ela pode ser expulsa por ser estrangeira ou, por ser uma menor dada como desaparecida na Alemanha, pode ser entregue à Alemanha", acrescenta o procurador, citado pelo jornal britânico.

A Alemanha ainda não emitiu um pedido de extradição, dado que, legalmente, para o fazer teria de emitir um mandado de captura, coisa que ainda não fez por não existirem provas suficientes. “Neste momento aquilo que ela fez depois de abandonar a Alemanha não é totalmente claro. A investigação sobre esse assunto está em curso”, disse Lorenz Haase, citado pelo ‘Telegraph”.

Em entrevista ao SAPO24, o jornalista britânico Tim Marshall, especialista em cobertura de conflitos, conta que a queda de Mossul pode significar um aumento do terrorismo na Europa: "Não vai haver muitos sobreviventes, mas alguns dos sobreviventes que são europeus vão regressar à Europa e vamos ver mais ataques ao longo dos próximos anos. Os que são da Ásia Central também vão regressar aos “stãos” e vamos ver alguns ataques aí também - de vez em quando, não vão dar grandes manchetes porque é a Ásia Central."