Este será o mais longo trajeto submerso dos 120 dias que dura a missão do NRP “Arpão”, que saiu da Base Naval de Lisboa no dia 04 de abril e já fez escala no Mindelo (Cabo Verde), Rio de Janeiro (Brasil) e Cidade do Cabo (Africa do Sul), antes de atracar na capital angolana, na quinta-feira.

Casablanca (Marrocos) é a próxima escala antes de Lisboa, mas para lá chegar o “Arpão” vai navegar 29 dias com a sua guarnição de 35 militares debaixo de água (incluindo três mulheres), num “cilindro” de 68 metros de comprimento e 6,3 metros de diâmetro.

Numa visita guiada, o primeiro-tenente Fidalgo de Oliveira desce com a Lusa pela escotilha, através das escadas verticais que desembocam num corredor com cerca de sete metros que dá acesso às diferentes áreas, para mostrar como tudo funciona a bordo.

Neste acanhado espaço, nenhum lugar de arrumação é desaproveitado e tudo está milimetricamente organizado, seja nas áreas de refeição, às de navegação ou de lazer, que podem servir também como enfermaria improvisada ou cenário de guerra dando acesso aos tubos a partir dos quais se lançam as armas (torpedos, mísseis e minas).

O submarino está preparado para submergir a 350 metros e conta com equipamentos que eliminam o hidrogénio e o dióxido de carbono da atmosfera, embora durante o carregamento das baterias, os mastros permitam também fazer as trocas gasosas entre o interior e o exterior do navio, explica Fidalgo de Oliveira.

“A profundidade média depende da missão” e pode ir da chamada quota periscópica, a 15 metros, para fazer reconhecimentos, a imersões mais profundas que servem para aproveitar as correntes, que, por vezes, dificultam também a progressão do submarino português, o primeiro a atravessar a linha do Equador.

Uma linha de sobrevivência, que atravessa todo o submarino facilita a orientação dos militares, mesmo no escuro e, em caso de contaminação da atmosfera, permite-lhes ligarem-se a pequenos pontos de ar respirável, possibilitando a atuação em casos de emergência.

Cá fora, um corpo de escuteiros prepara-se para receber uma tonelada de brinquedos e roupa trazidos pela guarnição e que serão doados ao orfanato Mamã Muxima.

Taveira Pinto, comandante do “Arpão”, disse à Lusa que esta missão está enquadrada na iniciativa Mar Aberto, que se realiza desde 2008 e que visa promover as relações bilaterais entre Portugal e os países da CPLP e a presença no Atlântico Sul, com especial enfoque no Golfo da Guiné, tendo em conta as atividades de pirataria no local.

Sobre os riscos que podem afetar um submarino, Taveira Pinto sublinhou que “navegar em imersão é, por si só, uma atividade perigosa”.

A Marinha Portuguesa foca-se em duas grandes áreas, a manutenção e o treino, realçou.

“Primeiro, focamo-nos na segurança e depois nas questões operacionais”, disse o militar, acrescentando que situações como a implosão do Titan “dificilmente” aconteceriam com um submarino português.