A Festa dos Tabuleiros só acontece a cada quatro anos, o que de acordo com o que João Vital, antigo Mordomo da Festa, disse ao SAPO24, "dá tempo para ter saudade". Este ano, a celebração marca uma data especial, tendo sido considerada Património Cultural Imaterial nacional, algo que traz ainda mais turistas nacionais e internacionais, segundo a Presidente da Câmara Anabela Freitas.

O cortejo principal acontece no dia 9 de julho, domingo, pelas 16:00 horas, e até ao último dia a câmara pensa receber cerca de "1.1 milhões de pessoas", sublinhou a presidente ao SAPO24. "O grosso das pessoas será no domingo, no dia do cortejo grande. Temos uma operação preparada para receber cerca de 800 mil pessoas, em termos de segurança, sendo que há 4 anos marcaram presença cerca de 700 mil", refere.

A responsável diz também que os dias mais concorridos serão entre 8 e 9, quando começam os cortejos parciais dos tabuleiros. "São umas mini Jornadas Mundiais da Juventude", apontou a Presidente.

As festividades em honra do Espírito Santo realizam-se pelo Pentecostes, data central do calendário cristão, e juntam atualmente os habitantes de todas as freguesias do concelho. Além disso, os tomarenses que se encontram fora regressam a casa para participarem no evento. Além destes, a festa também atrai muitos turistas, o que faz com que os hotéis da pequena cidade estejam cheios há quase um ano, e a cidade prepara-se para os constrangimentos causados pela ornamentação das ruas.

"Vamos ter ruas ornamentadas, que foram abertas esta quarta-feira, e tudo o que é centro histórico está cortado para o estacionamento dos moradores e circulação de carros por questões de segurança e organização da festa", refere a presidente.

Como é que a festa atrai cada vez mais pessoas?

"Nos últimos anos temos tido um enorme aumento no número de visitantes. São cada vez mais pessoas que vêm de fora de Tomar, a partir do dia de abertura das ruas ornamentadas, que este ano antecipámos de quinta para quarta-feira. Porém, desde o primeiro dia da festa, dia 1, que temos já registado mais pessoas, em especial estrangeiros, que já existem em grande número entre a nossa comunidade, mas que também que aparecem de propósito para a festa", diz Anabela Freitas. "Temos até três ruas que foram ornamentadas e pensadas pela comunidade estrangeira e isso é uma forma de integração na sociedade", conta.

A Presidente reforça ainda a importância de dois fatores fundamentais que trazem as pessoas a Tomar por estes dias: o facto de ser primeira edição depois da pandemia, que afastou as pessoas dos grandes eventos, inclusive ao ar livre, como é o caso da Festa dos Tabuleiros, e ainda a classificação como Património Cultural Imaterial Nacional, que pode trazer mais atratividade para esta edição, em especial turistas.

"Continuamos a ter mais portugueses na festa, sobretudo das regiões Norte e Alentejo, sendo que tendo em conta o aumento da comunidade estrangeira em Tomar, existem cada vez mais visitantes de nacionalidade britânica, francesa e norte-americana", sublinha.

"Os norte-americanos são capazes de vir a Tomar devido ao nosso património judaico, nós temos a Sinagoga mais antiga do país, e temos divulgado muito essa realidade junto das comunidades judaicas. Por isso, é possível que a palavra tenha sido passada de boca em boca, e vamos inclusivamente ter a presença da embaixadora dos Estados Unidos no dia do cortejo grande", enfatiza.

Qual o retorno económico da festa para Tomar?

Este ano a festa terá uma característica especial, com uma parceira com o Instituto Politécnico de Tomar vai ser possível saber exatamente qual o retorno financeiro da celebração. "Vai ser feito um estudo sobre o impacto económico e social da Festa dos Tabuleiros, não só em Tomar como também na região, porque estando a cidade com a capacidade hoteleira esgotada, quem visita acaba por recorrer a outros concelhos próximos", diz a Presidente. Assim, quando a festa acabar, pela primeira vez, será possível medir o impacto da festa em Tomar e na região do Médio Tejo.

Uma mulher e um homem por cada tabuleiro, ruas, flores e religião. Como se organiza esta Festa?

João Vital, antigo Mordomo da Festa dos Tabuleiros em 2007, 2011 e 2015, bem como membro da Comissão de Festas, conta que "a cidade já está cheia", e que apesar de achar ambicioso o número avançado pela presidente de 800 mil pessoas no domingo, diz que esse será o dia com mais visitantes, e que aconselha todos a vir no sábado.

"No sábado já vão desfilar muitos dos tabuleiros, é a chegada daqueles que chegam das Juntas de Freguesia e já é possível ver um grande espetáculo. As pessoas podem também ver as ruas da cidade decoradas, algo que talvez não seja tão fácil no domingo", refere.

Estão oficialmente abertas as 38 ruas decoradas por centenas de moradores e amigos que podem ser vistas por quem visita Tomar por estes dias. A inauguração das ruas, já feita na quarta-feira, é seguida de uma competição amigável entre ruas para saber quem fez o melhor trabalho, porque até aqui ninguém conhecia o trabalho dos outros. São mais de 1.200 quilómetros de papel para construir flores e painéis, e dar cor à cidade.

João Vital, um participante nas celebrações desde os 18 anos, altura em que tocava o sino que marca o ritmo para colocar os Tabuleiros em marcha à cabeça das mulheres, diz que "em termos dos locais o entusiasmo pelas festas é o mesmo de sempre" e acrescenta que "estávamos há um ano a trabalhar nisto, nas flores, nas ruas, no planeamento, por isso as pessoas precisavam disto".

Admite que são ainda mais tomarenses na festa, "que nesta altura não andam na rua porque têm mais que fazer, porque devem estar a preparar as casas para receber as famílias", mas nota que nos últimos anos as ruas se enchem de turistas: "ainda há pouco me cruzei com um casal de italianos", conta.

"Vêm muitos norte-americanos, talvez até porque as Festas do Espírito Santo são também vividas pelos portugueses que estão na América e por isso vêm conhecer a nossa tradição, em Tomar, que está um bocadinho na moda. Não esquecer que somos a cidade dos templários e isso os americanos gostam muito", reforça.

Sobre a organização e orgulho na terra, realça que a organização tem cerca de 300 pessoas, fora as comissões de ruas, as escolas, que ajudam com flores feitas pelas crianças para decorar as ruas, as comissões de festas de cada rua e até o Centro Hospitalar do Médio Tejo, que decora uma rua, e os lares que ajudam com os seus utentes. "É uma Festa é do Povo, pelo Povo e para o Povo. Não esquecer que envolve o concelho inteiro, não só a cidade, não só as freguesias. Atualmente esta é a festa de toda a região. Deve haver poucas famílias em Tomar que não tenham alguém envolvido", lembra.

E assim que cada festa acaba, começa a hora de pensar na seguinte, pois só assim se consegue organizar uma festa com esta dimensão de quatro em quatro anos, explica João Vital. "De festa para festa dá para esquecer a festa anterior e pensar na nova. Começamos a juntar força e a sentir necessidade de uma nova festa. Dá tempo para ter saudade, memórias, morrem pessoas, nascem pessoas".

Quais as maiores dificuldades de carregar um tabuleiro?

Esta é uma festa antiga que tem origem incerta: há quem defenda que remonta aos cultos pagãos e ter sido cristianizada no século XIV pela rainha Santa Isabel. Já no século XVI, os tabuleiros podem ter-se inspirado no trabalho dos mestres e artífices que erigiam os monumentos manuelinos da cidade.

Na base de cada tabuleiro está um cesto, coberto com um pano branco, sobre o qual é erguida uma estrutura que suporta 30 pães, de 400 gramas cada, e uma coroa encimada pela Cruz de Cristo, pela esfera armilar, instrumento de navegação transformado em símbolo real, ou uma pomba branca, representação de divindade. A intercalar estão dezenas de flores em papel, numa alusão à lenda da rainha Santa Isabel e do milagre das rosas.

Cada tabuleiro é acompanhado por um homem e uma mulher, cabendo à última carregá-lo sobre a cabeça. A estrutura pesa entre 15 a 18 quilos, o que para o senhor João Vital "não é muito pesado, o pior é o vento, por isso é que vai ao lado o rapaz a ajudar".

Apesar do calor que se possa sentir ou de algum eventual desequilíbrio, o par vai sempre atento e pronto a ajudar. No dia do grande cortejo, que começa às 16:00 e termina por volta das 19:30, fazem-se duas paragens de 20 minutos cada.

"Por vezes o rapaz vai distraído e a olhar para o lado e lá cai um tabuleiro, em especial em dia de mais vento, mas normalmente acabava por conseguir apanhá-lo", diz o antigo Mordomo.

No domingo, vão ser 618 tabuleiros a percorrer as ruas de Tomar, acompanhados por centenas de pessoas.

O que não se deve esquecer quando se visita a Festa dos Tabuleiros?

Recorde-se que a Festa já começou no dia 1 de julho e, por isso, restam agora os dias mais concorridos. Segundo a presidente da Câmara, o dia 9 de julho "é um espetáculo lindo de cor que efetivamente vale a pena, mas para ver as ruas decoradas com calma o melhor será mesmo escolher vir a Tomar no sábado, quando está tudo mais calmo", refere.

Nos dias anteriores existem também os cortejos parciais, "por isso as pessoas não deixam de ver Tabuleiros, mas aproveitam mais todo o espírito da festa e não perdem a oportunidade de ver as ruas cheias de cor", refere a responsável.

O programa da Festa dos Tabuleiros de Tomar está disponível no site oficial da celebração, a que se pode aceder aqui. Nesta página também se pode encontrar várias dicas sobre onde comer, onde dormir, onde estacionar e o que visitar na região.

Lembra-se que o dia do grande cortejo é dia 9, domingo, e pode ser visto de vários pontos da cidade de Tomar.