A presença feminina no crime organizado tem aumentado, muitas vezes, por laços familiares com os criminosos, "as mulheres são utilizadas para camuflar a atividade criminosa", diz a criminologista e professora assistente na Faculdade de Direito, na edição desta segunda-feira do jornal Público.

O registo de condenações da Justiça, entre 2000 e 2018, referido na tese de doutoramento de Ana Guerreiro, mostra que as mulheres acusadas aumentou de "11,6% para 17,4% e as condenadas passou de 7,6% para 13,6%" e que o número de homens julgados e condenados diminuiu naquele período, escreve o jornal.

A investigadora não descura a "emancipação feminina", bem como a sua "autonomia", como estando relacionadas com o aumento de mulheres no mundo do crime, no entanto, as causas "continuam as estar muito ligadas aos homens", sublinha Ana Guerreiro, "muitas entraram e mantêm-se nos grupos de crime organizado por uma ligação familiar prévia", respondeu a docente da Faculdade de Direito ao jornal, não descurando que, tal como os homens, a obtenção de lucro, poder e estatuto social é o que as move.

O tráfico de droga é dos motivos mais associado às mulheres que foram apanhadas, de acordo com os trabalhos efetuados por Manuela Inove Cunha, Raquel Matos e Sílvia Gomes em prisões. Ana Guerreiro acrescenta que na maior parte dos casos servem para "camuflar o crime", desempenhando funções mais "passivas e subalternas em relação aos elementos masculinos" sem que isso lhes tire alguma importância pois "ocupam lugar determinante no grupo, designadamente na manutenção das actividades criminosas" onde entram funções de "recrutamento, transporte, venda, compra e armazenamento de produtos ou bens".

Ao analisar o enquadramento das mulheres nas redes do crime, a investigadora entende que "detêm graus de centralidade e intermediação muitas vezes superiores aos homens". São as mulheres que muitas vezes ocupam o papel de "vigilância" porque chamam menos a atenção da polícia e daí servirem para "camuflar a actividade criminosa do grupo", descreveu Ana Guerreiro ao Jornal Público.

A investigadora de 31 anos lamenta o número reduzido de estudos semelhantes em Portugal e pretende continuar a investigar a presença das mulheres no mundo do crime, focando a sua atenção para a participação das "mulheres em crimes fiscais e crimes económicos".