“Tenho provas factuais de dirigentes de um partido a montar campanhas dentro das redações, a fomentar greves. Acredito num jornalismo livre e independente, mas quando o grupo ficou sem dívida, é que começaram a acontecer as coisas estranhas”, afirmou Marco Galinha, em entrevista ao Público hoje divulgada.

O líder do Grupo Bel adiantou que quando chegou ao grupo percebeu que este “tinha acordos com deputados em situação de exclusividade na Assembleia da República”.

“Fui o primeiro a proibir pagamentos a políticos no ativo”, acrescentou, salientando que foi patrão “de uma empresa completamente falida, onde quem mandava verdadeiramente era uma organização, o BE [Bloco de Esquerda]”, o qual estava “completamente enraizado na TSF”.

“Os trabalhadores da TSF, através dos órgãos que os representam (Conselho de Redação, Comissão de Trabalhadores e Delegada Sindical), manifestam o mais vivo repúdio pelas palavras do ‘chairman’ Marco Galinha, considerando que elas representam uma grave afronta à integridade, independência e profissionalismo da redação e restantes trabalhadores” da rádio, lê-se no comunicado a que a Lusa teve acesso.

Estas declarações, “no momento em que decorrem negociações visando superar o atual impasse, afiguram-se ainda mais estranhas constituindo um ataque ao valor profissional de todos os trabalhadores desta rádio e contribuem para a continuada destruição da marca TSF, em contraste com o esforço diário dos profissionais que, mesmo com salários em atraso, exercem as funções com brio e orgulho pelo projeto que ambicionam preservar”, rematam.

Esclarecem ainda que as declarações de Marco Galinha “são de extrema gravidade e carecem de fundamentação (a apresentação imediata da tal ‘prova factual’) sob risco de lançarem sobre toda a redação uma acusação infame, infundada e lesiva do bom nome de todos os profissionais que, na TSF, cumprem a missão de preservar e defender a árdua, mas indispensável missão do jornalismo”.

Os órgãos representativos dos trabalhadores recordam ainda que a greve realizada há quatro meses na TSF decorreu de “um processo negocial precisamente sobre o futuro” da rádio, em 20 de setembro, a primeira em 35 anos.

“De facto, a greve ocorreu porque o Conselho de Administração, na altura liderado por Marco Galinha, não cumpriu a proposta de ajustes salariais, por ele próprio avançada, em nome daquilo que considerou ser a ‘necessidade de paz social’ na empresa, proposta essa ‘não rejeitada’ pelos trabalhadores da TSF (os únicos no grupo a fazê-lo, no pressuposto da continuação de um diálogo negocial relativamente ao ano de 2024 e visando a concretização dessa paz social), nem respondeu às sucessivas tentativas de contacto” da parte dos trabalhadores da rádio.

Além disso, “desde julho 2023, ocorreram ainda casos de atraso no pagamento de salários, sem que tivesse existido aviso prévio ou justificação por parte da administração”, apontam, referindo que foi manifestada ainda “profunda preocupação” relativamente ao fundo e alertaram para “o risco elevado que comportava a falta de investimento em meios humanos e técnicos e a sucessiva delapidação da memória e dos recursos da redação com saídas de trabalhadores que não eram substituídos”.

Entretanto, o acordo para a compra de alguns jornais e revistas da Global Media e da TSF será assinado ainda esta semana.

A TSF, segundo fonte da redação, recebeu hoje o pagamento do subsídio de refeição de janeiro.