Donald Trump referiu-se a Gennifer Flowers, e ao seu alegado relacionamento com Bill Clinton, depois de o milionário e investidor Mark Cuban, que os portugueses conhecem como um dos "tubarões" do Shark Tank americano, e que apoia Hillary, ter afirmado que se irá sentar na primeira fila do debate que terá lugar amanhã. Trata-se do primeiro frente a frente entre Hillary Clinton e Donald Trump e que se prevê que tenha 90 milhões de pessoas a assistir. "Se o imbecil do Mark Cuban, que tem fama de benfeitor fracassado, se quer sentar na primeira fila, talvez eu coloque a Gennifer Flowers bem ao lado dele!" escreveu Trump na sua conta Twitter.
Trump já se referiu em várias oportunidades às infidelidades do marido da sua adversária. O candidato republicano critica Hillary por não ter se separado do marido, apesar de suas infidelidades. Complicando ainda mais as coisas, uma conta de Twitter ligada ao site oficial de Flowers assinalou que ela assistirá o debate e sugeriu que apoiará Trump. "Olá, Donald. Sabe que estou do seu lado e com certeza estarei no debate!...", afirma o tuíte com um emoticon de beijo.
Bill Clinton teve uma relação com Flowers enquanto era governador do estado de Arkansas (1983-1992). Apesar de Trump trazer o tema para a campanha com esta ameaça, a equipa republicana descartou a possibilidade de Flowers ter sido convidada para o debate. "Trump tem formas de entrar na cabeça de Hillary Clinton", comentou a diretora da campanha republicana, Kellyanne Conway, falando à CNN.
"Não a convidámos formalmente e não esperamos que ela assista como convidada da campanha de Trump", acrescentou Conway referindo-se a Flowers.
Já o staff de Hillary Clinton classificou como frívola a menção de Trump a Flowers. "Se é sobre isto que Donald Trump quer que seja o debate, é um assunto dele", afirmou à ABC o diretor da campanha democrata, Robby Mook. "É uma estrela de reality show. Tem muita experiência em termos de entretenimento na televisão. A presidência não é um entretenimento", acrescentou Mook, aludindo ao programa "O aprendiz", apresentado por Trump.
Hillary e Trump chegam empatados
Hillary Clinton e Donald Trump chegam ao primeiro debate televisivo empatados na corrida para presidência. A candidata democrata e o seu adversário republicano contam com 46% das intenções de votos entre os eleitores registados. Se forem incluídos todos os candidatos, Hillary e Trump conseguem 41% cada, o representante do Partido Libertário, Gary Johnson, 7% e a candidata do Partido Verde, Jill Stein, 2%. Enquanto outras sondagens ao nível nacional mostram Hillary com vantagem, a média dos inquéritos revela uma estreita margem de um dígito.
As diferenças de género, raça e educação são claras entre ambos candidatos. Entre os homens, 54% apoiam Trump, e 55% das mulheres apoiam Hillary. Por ouro lado, 53% dos eleitores brancos preferem Trump, contra 37% para Hillary, que, por sua vez, recebe 69% do apoio de outras raças, enquanto o magnata fica com apenas 19%. Trump vence Hillary por quatro a um entre os homens brancos sem grau universitário, enquanto que a democrata conta com 57% dos votos das mulheres brancas com nível universitário. Clinton recebe cerca de 39% de opiniões favoráveis, contra 57% que têm uma opinião desfavorável sobre ela. Já Trump tem 38% de opiniões favoráveis e 57% desfavoráveis. Questionados sobre a honestidade dos candidatos, os inquiridos atribuem a Hillary piores respostas: 33% consideram-na honesta e confiável, contra 66% que acham o contrário. No caso de Trump, 42% acham-no honesto e confiável, contra 53%.
"Não sei qual Donald Trump vai apresentar-se"
Dezenas de milhões de americanos assistirão ao debate de 90 minutos, organizado na Universidade de Hofstra, próxima de Nova Iorque, e que deve quebrar recordes de audiência. As expectativas e riscos para os dois candidatos são diferentes. Hillary Clinton tem muito mais experiência na vida pública, mas provoca pouco entusiasmo no eleitorado em geral, ao passo que de Trump, um populista adepto de frases bombásticas - como é exemplo o comentário que hoje disparou sobre Gennifer Flowers - , ninguém espera que conheça de maneira profunda os temas fundamentais da agenda.
Debilitada recentemente por uma pneumonia que a afastou da campanha por vários dias, a ex-secretária de Estado e ex-senadora de 68 anos representa a continuidade de oito anos da administração de Barack Obama. Hillary tem se preparado minuciosamente para o debate. A candidata democrata analisa há várias semanas relatórios e estatísticas para contrapor a Trump, revê os debates organizados durante as primárias democratas e, de acordo com o jornal New York Times, consulta inclusive psicólogos sobre a personalidade do magnata republicano para tentar antever suas reações.
"Não sei qual Donald Trump vai apresentar-se (ao debate). É possível que tente mostrar uma imagem presidencial e procure demonstrar uma gravidade que não teve até agora, ou que chegue com a ilusão de insultar e ganhar alguns pontos com isto", disse Hillary Clinton recentemente numa acção de campanha.
Para Wendy Schiller, cientista política da Universidade de Brown, o exercício não é fácil para Clinton. "O seu instinto é estar orientada para políticas, mas seus simpatizantes querem que enfrente este adversário diretamente, que o deixe incomodado". Esta opção é muito difícil para a democrata, afirma Schiller, "porque não é seu estilo". Ao mesmo tempo, seus eleitores "esperam que ela tenha uma dimensão presidencial, e isto inclui ser contida e educada. E esta pode não ser a estratégia mais efetiva para ganhar um debate", disse.
Ao mesmo tempo, depois da pneumonia, Clinton deve mostrar que goza de boa saúde, que é dinâmica, e que está preparada para administrar sua campanha de forma transparente, disse Jennifer Lawless, da American University.
"São todos democratas"
O nível de responsabilidades é menor para Trump, de 70 anos, um candidato atípico e impulsivo, que em grande medida continua a ser rejeitado pela liderança tradicional do Partido Republicano e que nunca exerceu qualquer cargo público. Trump nunca enfrentou a pressão de um debate presidencial, mas ganhou fama como apresentador de um reality show na TV.
Para Schiller, Trump deve "recordar aos republicanos que é um republicano, que será um presidente republicano". Lawless destaca, no entanto, que Trump precisa de mostrar que "tem caráter para ser presidente", o que significa "não ficar irritado ao atacar Clinton. Também deverá ser um pouco mais específico sobre as suas propostas".
Em resumo, todos sabem que qualquer passo em falso acabará repetido sem trégua na televisão. Trump disse que pretende tratar Clinton "com grande respeito, a menos que ela me trate de uma forma específica. Neste caso, será o fim. Mas parto do princípio que tratarei com respeito".
De acordo com Brian Fallon, diretor de imprensa da campanha de Hillary, ela "não irá ao debate para provocar Trump. Mostrará que conhece melhor todos os temas, tem autoridade e força para ser comandante-em-chefe. O contraste falará por si mesmo".
Trump não detalhou como se está a preparar para o debate. Mas enviou por e-mail um questionário aos seus eleitores, com um pedido de ajuda. Nas 30 perguntas enviadas procurou orientação sobre os temas a abordar, quais as linhas de ataque a dar prioridade (política externa, o escândalo dos e-mails ou as dúvidas sobre a Fundação Clinton) e até mesmo se deve utilizar no debate o apelido que criou, "Crooked Hillary" (Hillary Desonesta).
"Este debate é um combate entre o povo americano e a máquina política que representa Hillary Desonesta", escreveu na mensagem eletrónica. O debate é o primeiro de três, que acontecerão num período de três semanas, e será organizado por temas: a direção que os Estados Unidos estão a seguir, a prosperidade e a segurança.
O moderador será o jornalista Lester Holt, de 57 anos, uma personalidade respeitada que apresenta o noticiário noturno do canal NBC. Trump não perdeu a oportunidade de reclamar do que considera um debate tendencioso. "Lester é um democrata. É um sistema com armadilhas. São todos democratas", disse Trump ao canal conservador FoxNews.
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