Numa arena meio cheia em Cincinnati, em Ohio, Donald Trump vangloriou-se, esta quinta-feira, pela vitória sobre Hillary Clinton, voltou a apontar baterias aos “media desonestos” e deixou críticas a quem não o apoiou. No entanto, o presidente eleito também falou de uma nação unida e anunciou “Mad Dog" Mattis como secretário de Defesa. O muro na fronteira com o México não ficou esquecido. Trump reiterou a promessa e a multidão cantou “construam o muro, construam o muro”.
O presidente eleito arrancou assim uma 'tour' sem precedentes na política americana e cujo objetivo é agradecer aos eleitores a sua nomeação. Este foi o primeiro grande discurso de Trump após a eleição.
“Divertimo-nos muito a combater Hillary não foi?”, perguntou à multidão que cantava “prendam-na, prendam-na”, escreve o The Guardian, adiantando que o candidato também voltou a criticar os “media desonestos”. Trump não ficou satisfeito com o facto de a imprensa esperar até depois da meia-noite (hora local) para o declarar vencedor na Pensilvânia, no dia das eleições. “Não tivemos os media [durante a campanha], os media foram brutais”, disse.
De referir que o empresário decidiu, após a sua eleição, não avançar com uma investigação formal a Hillary Clinton sobre o caso dos e-mails.
Ao ataque, Trump deixou críticas aos seus críticos, nomeadamente a John Kasich, republicano que defrontou Trump nas primárias e se recusou a apoiar a sua candidatura, e a Evan McMullin, candidato conservador independente à presidência dos EUA.
Trump aproveitou ainda a ocasião para anunciar que o general reformado James Mattis será o seu secretário da Defesa. "Vamos nomear o 'Mad Dog' Mattis como nosso secretário da Defesa", disse, referindo-se ao apelido do ex-chefe do Comando Central americano, cargo que lhe dava autoridade no Iraque e no Afeganistão. "Mas não vamos anunciar até segunda-feira, então, não digam nada a ninguém", brincou. "O 'Mad Dog' é excelente, é excelente", reforçou. "É o melhor. Dizem que é o mais próximo do general George Patton que temos", comentou, em alusão ao famoso general americano da II Guerra Mundial.
O presidente eleito prometeu também unir o país e disse rejeitar a intolerância. "Somos uma nação muito dividida, mas não vamos continuar divididos por muito tempo", prometeu. ”Condenamos a intolerância e os preconceitos em todas as suas formas. Denunciamos todo o ódio e rejeitamos fortemente a linguagem de exclusão e de segregação", acrescentou.
Sobre a postura dos EUA face ao exterior, Trump disse à multidão em Cincinnati que “não há um hino global, nenhuma moeda global. Juramos aliança a uma bandeira, e é a bandeira Americana”.
No que diz respeito à economia, Trump comprometeu-se a “reverter a estagnação e acelerar a entrada num período de prosperidade e crescimento”. “Vamos competir no mundo, nós queremos competir no mundo, mas vamos competir num mundo em que exista uma estrada de dois sentidos, que não seja unidirecional. (…) As vantagens vão regressar ao nosso país”, reiterou.
O terrorismo também marcou presença, com o presidente eleito a relacionar os ataques - como o desta semana numa universidade de Ohio - aos programas de refugiados “estúpidos”, criados por “políticos estúpidos”. “Vamos suspender a imigração de regiões que não são seguras”, disse, citado pelo The New York Times.
No que diz respeito à construção do muro na fronteira com o México, Trump reiterou a promessa repetida incansavelmente ao longo da campanha eleitoral. Enquanto isso, a multidão cantava “construam o muro, construam o muro”.
Ainda no âmbito desta 'tour' de agradecimento - que irá passar pelos estados norte-americanos em que Trump foi vencedor nas eleições presidenciais do passado dia 8 de novembro - o presidente eleito visitou fábrica de aparelhos de ar condicionado Carrier no Indiana e deixou um recado às empresas: aquelas que deixarem os Estados Unidos com o objetivo de reduzir custos enfrentarão “consequências”.
"As empresas não vão abandonar os Estados Unidos sem consequências. Não vai acontecer", disse Trump. Para conter a saída de empresas do país, o presidente eleito prometeu reduzir impostos e diminuir a regulamentação, coisas que "esmagam" as indústrias e os pequenos negócios.
Ao salientar que seis das oito companhias americanas de ar condicionado estão localizadas no México, Trump insistiu: "Não toleraremos mais". "Abandonar o país vai ser muito, muito difícil", insistiu.
"Gostamos do México. Estive há três meses com o presidente do México, uma pessoa incrível, mas devemos ter um tratamento justo. Não recebemos nada", afirmou, reiterando as críticas feitas durante a campanha contra o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA, na sigla em inglês). "Temos o NAFTA, que é um desastre total", afirmou.
O empresário nova-iorquino fez da Carrier um símbolo desde que a fábrica anunciou que não vai transferir os mil empregos para o México, garantindo na última terça-feira no Twitter ter "chegado a um acordo com o presidente eleito". Numa nota publicada posteriormente, a empresa explicou que os "incentivos propostos pelo Estado (de Indiana) tiveram um papel importante" na decisão.
"O estado de Indiana ofereceu à Carrier um pacote plurianual de 7 milhões de dólares, acompanhado de condições para a criação de emprego, de manutenção de postos de trabalho e de investimentos financeiros", anunciou a filial do gigante United Technologies, esta quinta-feira. Segundo os media norte-americanos, a empresa também receberá benefícios fiscais por seis anos.
Indianápolis foi a primeira paragem de Trump nesta 'tour' em que está acompanhado do seu vice-presidente, Mike Pence, que também é governador do Indiana.
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